O sistema de vigilância de um supermercado flagra um homem próximo à câmera de frios em atitude suspeita. Seguranças observam um volume extravagante na calça. Ao correr da abordagem, três peças de picanhas caem de dentro da roupa do suposto cliente.
Esta situação está longe de ser incomum em supermercados goianos. Esses delitos somados a produtos danificados, extravio de mercadorias e perdas de produtos perecíveis refletem em prejuízos de cifras milionárias às empresas. Em 2013, as perdas chegaram a R$ 5,3 bilhões no Brasil. Na prática representam, em média, entre 2% e 5% do faturamento líquido anual dos supermercados, dependendo do porte. Na tentativa de mitigar essa quebra de lucro, supermercados estão investindo em treinamento de prevenção de perdas.
De 2010 para cá, o Hiper Moreira reduziu em mais da metade o volume de perdas de produtos. Para isso, 31 funcionários espalhados por setores considerados chave formam a equipe de prevenção de perdas. Antes do programa, o prejuízo do supermercado girava em 5% do faturamento líquido, hoje é de 2,2%.
O gerente de prevenção de perdas do Hiper Moreira, Rafael Santana Araújo, explica que existem funcionários no depósito (recebimento de mercadorias), em frente à linha das operadoras de caixa e fiscais rondando as prateleiras entre outras regiões do supermercado. “Mapeamos as áreas e damos atenção especial a produtos de volume pequeno e grande valor agregado”, diz. Compõem o quadro para prevenção de furtos, câmeras 24 horas e etiquetas eletrônicas.
O trabalho de prevenção de perdas conseguiu reduzir até o setor de perecíveis, considerado o vilão dos supermercados. Para Rafael, este será um eterno problema para o setor, mas com planejamento de compra, reposição de produtos e triagem é possível ter lucratividade. “Nossa perda é de 6,5%.”
O proprietário do Supermercado Campos, Nivaldo do Nascimento Araújo, afirma que este é o setor que mais gera perda para a empresa, em torno de 10%. “Temos que trabalhar políticas de comprar produtos de melhor qualidade e selecionados.”
No geral, a perda do Supermercado Campos gira entre 2% e 2,5% do faturamento líquido. No caso, compõem esta quebra furtos de sandálias, bebidas destiladas, chocolate e produtos de perfumaria, além de danificação de produtos. Nivaldo conta que está realizando um levantamento no Sebrae para diagnosticar perdas e melhorar a gestão.
Incidente
Enquanto os supermercados fecham o cerco contra infratores, costumam ser mais complacentes com os distraídos. Esbarrar em uma gôndola de supermercado e quebrar involuntariamente o vidro de um produto é constrangedor, mas o desfecho vai depender da política da empresa. A maioria não cobra o produto do cliente. Já alguns não cobram diretamente, mas aceitam o pagamento do consumidor que tome a iniciativa de arcar com o prejuízo.
Leonardo Oliveira Borges, da rede Store, explica que, em casos mais graves, quando uma pilha de produtos é danificada por causa da distração de um cliente, não há o que temer. “Temos um acordo com a indústria e trocamos os produtos”, esclarece.
Entretanto, afirma que essa não é uma situação comum. O supermercado adota políticas de organização de prateleiras e disposição de gôndolas com o intuito de atrair clientes e reduzir acidentes. “Colocamos em um local que possuem barras que impedem que o carrinho bata na gôndola, por exemplo.”
Fonte: O Popular