Carlos Eduardo Sundsfeld Nunes, 29, conhecido como Cadu, autor das mortes do cartunista Glauco e de seu filho Raoni, em março de 2010, será indiciado como um criminoso comum. Esse pelo menos é o entendimento do delegado Thiago Damasceno, que investiga o envolvimento dele na tentativa de latrocínio contra um agente prisional na noite da última quinta-feira, 28, e num latrocínio ocorrido na noite do último dia 30, no Setor Bueno, que causou a morte de Mateus Morais Pinheiro, de 21 anos. O suspeito permanece detido na carceragem da Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH) e será indiciado também pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e receptação. Cadu foi preso na segunda-feira (1º).
Réu confesso do assassinato do cartunista Glauco e o filho dele, Raoni, Carlos Eduardo não chegou a ser julgado e foi declarado inimputável (não responsável por seus crimes) pela Justiça. Em 2013, Cadu foi diagnosticado com esquizofrenia e veio para Goiânia, onde seu pai mora, para se tratar. Em agosto de 2013, a Justiça de Goiás decidiu que ele podia receber alta médica com o argumento de que o homem estava apto a passar a fazer tratamento ambulatorial, em vez de ficar internado.
Porém, segundo Damasceno, Cadu será indiciado como uma pessoa normal. “Até agora não recebemos nenhum documento que nos oriente a agir de outra forma. Sabemos dos casos pregressos do suspeito, mas ele, até o momento, está sendo conduzido como um suspeito de latrocínio.” O delegado disse ainda que, em depoimento colhido ainda na segunda-feira, pôde perceber que Carlos Eduardo é instável e, na sua opinião, não tem condições de viver em sociedade. Na delegacia, o pai de Cadu disse que o filho estava tomando os remédios receitados pelos médicos, mas que também usava drogas.
Quadrilha
O delegado acredita que Cadu integre uma quadrilha de roubo a veículos. Segundo ele, uma testemunha de outro caso já confirmou ter sido vítima de Carlos Eduardo. O suspeito foi preso na segunda junto com Ricardo Pimenta Andrade, 33, na Vila Americano do Brasil, em Goiânia. Os dois conduziam dois veículos da marca Honda, um Civic (que pertencia a Mateus) e um City, ambos com registros de roubo.
O próprio delegado passava pelo Setor Oeste e percebeu que as características dos veículos eram semelhantes às dos registros de crimes. Ele seguiu os suspeitos até as proximidades da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, quando contou com o auxílio da guarda municipal para efetuar a abordagem. Nesse momento, Cadu fugiu, mas Ricardo não obteve êxito e foi preso. Ele confessou que os carros eram roubados, mas negou participação nos outros crimes.
Na fuga, Carlos Eduardo trocou tiros com a polícia, mas não foi atingido. Segundo a polícia, ele se feriu ao bater o carro numa árvore. No crime de quinta-feira, o delegado afirma ter bastante provas que incriminam Cadu, como depoimentos e imagens de câmeras de segurança, mostrando a fuga dele logo após atirar contra a vítima. Sobre a participação do rapaz no latrocínio no domingo, o delegado diz que está investigando. “Ele estava no carro da vítima e com uma arma parecida com a que foi utilizada no crime. Vamos esperar o resultado da balística e os depoimentos”, disse o delegado.
Juíza dá explicações sobre o caso
A juíza da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), Telma Aparecida Alves, recebeu a imprensa para uma entrevista coletiva no final da manhã de ontem. Ela enfatizou que a liberdade concedida a Carlos Eduardo há cerca de um ano foi embasada nas leis brasileiras. Mesmo com a confissão do rapaz, ela explicou que, como médicos atestaram que ele não tinha capacidade de perceber a gravidade de seus atos, foi considerado inimputável. Nesses casos, segundo ela detalhou, os criminosos são encaminhados para cumprimento de medidas de segurança.
Após ficar dois anos no presídio manicomial de São Paulo, foi trazido para Goiás, certamente por pedido da família. Aqui, segundo a juíza explicou, por não existir manicômio judiciário, ele foi encaminhado para continuar tratamento na rede pública de saúde, em Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Incluído no Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (Paili), em Goiânia, ele passou por tratamento em uma clínica psiquiátrica, mas, em agosto de 2013, a Justiça de Goiás considerou que ele podia receber alta médica.
A juíza detalha que Cadu era acompanhado pelo Poder Judiciário e que mensalmente os pareceres psiquiátricos e psicológicos eram apresentados. O último recebido pela Justiça consta data de julho deste ano. Esses relatórios, segundo a magistrada, atestam que o suspeito mantém doença mental em nível estável. Ainda segundo Telma Aparecida, ele cursava Psicologia e chegou a trabalhar em uma empresa de call center. Ele teria sido dispensado quando a empresa ficou sabendo dos antecedentes de Carlos Eduardo.
A juíza também destacou que em quase dois anos em que ele é acompanhado pelo Poder Judiciário goiano, esta é a primeira vez que se envolve em crime. Para ela, polícia também precisa investigar se ele não pode ter sido aliciado para participar de crimes justamente por sua declarada inimputabilidade no passado. Mas isso não o exime de um novo processo, nem de ser julgado e condenado. “Tudo dependerá do entendimento do juiz que receber esse caso e que, certamente, pedirá novos exames psicológicos e psiquiátricos”.
Fonte: O Hoje