Quase dois anos se passaram da morte da modelo Louanna Adrielle Castro Silva, de 24 anos, e, para a família, a sensação é de impunidade. A jovem faleceu durante um procedimento para colocar próteses de silicone nos seios, em um hospital de Goiânia. A Polícia Civil investigou se houve negligência médica e o inquérito foi concluído há três meses, sem responsabilização dos profissionais. “Não creio mais em justiça. Minha filha morreu e os médicos seguem trabalhando. A minha dor é tão grande que isso acabou até com a minha saúde”, disse ao G1 a mãe da modelo, a cabeleireira Dênia de Castro Silva.
Louanna nasceu e morava em Jataí, no sudoeste de Goiás, e havia sido eleita Miss Jataí Turismo em maio de 2012. A jovem morreu no dia 1º de dezembro do mesmo ano durante o procedimento cirúrgico no Hospital Buriti, no Parque Amazônia, na capital. Dênia diz que a filha já tinha colocado a prótese na mama direita, mas sofreu uma parada cardíaca ao receber a prótese na mama esquerda. Sem Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no hospital, ela teve de ser encaminhada para outra unidade, mas não resistiu.
Na época, o médico responsável pela cirurgia, Rogério Morale de Oliveira, e a médica anestesista Beatriz Vieira Espíndola, disseram à polícia que a jovem teve reações às medicações que poderiam ser comuns a pessoas que já usaram algum tipo de droga. No entanto, um laudo toxicológico emitido em janeiro de 2013 não apontou qualquer indício de uso de entorpecente. A defesa da equipe médica contestou e um novo exame, feito em Brasília e divulgado em setembro do mesmo ano, apontou presença de cocaína no organismo de Louanna.
Além da investigação policial, o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) instaurou uma sindicância para apurar o caso. Segundo o órgão, o caso foi arquivado em fevereiro deste ano, pois o laudo criminalístico e o exame toxicológico comprovaram que não houve indício de infração por parte dos profissionais. Durante esse período, os médicos continuaram trabalhando normalmente.
Procurado pelo G1, o advogado de defesa do médico, Carlos Márcio Rissi Macedo, disse que só foi comunicado sobre o arquivamento da sindicância do Cremego na semana passada. “Os laudos mostram que os médicos não tiveram envolvimento na morte, pois a paciente não os informou sobre o uso de entorpecentes e isso causou a reação durante a cirurgia. E foi exatamente essa comprovação e o arquivamento por parte do Cremego que ajudaram na conclusão do inquérito policial”, afirmou.
O delegado responsável pelo caso, Fernando de Oliveira Fernandes, titular do 13º Distrito Policial de Goiânia, confirmou que não houve provas para responsabilizar o médico e a anestesista pela morte. “Os laudos apontaram que não houve erro profissional ou ético. Sendo assim, o inquérito foi concluído e eles não chegaram a ser indiciados”, explicou.
Sobre a diferença registrada nos dois exames toxicológicos, o delegado explica que a segunda análise foi feita em um laboratório na capital federal, que é mais moderno, capaz de detectar com maior precisão a presença ou não de droga no corpo da vítima.
Cocaína
A mãe de Louanna contesta a informação e diz que não acredita que a filha fazia uso de cocaína. “Ela não tomava nem bebida alcoólica, como é que usaria droga? Não tenho dúvidas de que os médicos forjaram esse exame para se livrar da culpa. Minha filha era uma pessoa de bem, querida por todos, que teve a vida interrompida por uma negligência. Infelizmente, eles têm mais dinheiro do que a gente e nunca conseguiremos provar a culpa deles. Mas lá no fundo eles sabem o que fizeram e vão ter que pagar perante Deus”, afirmou Dênia.
Sobre a investigação, ela diz que, desde o começo, não tinha fé sobre qualquer punição aos profissionais. “O inquérito foi concluído e nós nem fomos avisados. Depois do que aconteceu, soube de outros casos de erros médicos do Rogério, mas não posso provar. O que mais me dói é saber que ele continua exercendo a medicina e colocando outras pessoas em risco. Ele nunca me procurou ao menos para se desculpar e isso mostra ainda mais que ele apenas queria se safar de um crime, pois ele matou minha filha. Não tenho dúvidas disso”, ressaltou.
O advogado do médico disse, ainda, que o profissional não quer se pronunciar sobre o caso em respeito à família, mas que sempre esteve consciente de que é inocente.
Louanna era casada e, segundo a mãe, sonhava com a cirurgia. “Minha filha já era linda, cheia de vida, mas queria muito colocar as próteses nos seios. Apoiamos a cirurgia pela felicidade dela, mas isso virou o nosso pior pesadelo”, lamentou Dênia.
A cabeleireira diz que após a morte da filha entrou em depressão e sofre com fortes dores de cabeça e no peito. “Eu passei 1 ano e 8 meses trancada dentro de casa, sem vontade de ver a luz do dia. É muito difícil aceitar uma perda assim e a dor é maior do que a gente pode suportar. Depois desse tempo, percebi que precisava fazer alguma coisa, me apegar a Deus, pois tenho outro filho e não posso morrer também”, afirmou.
Dênia ressaltou que o que mais a deixa triste é o fato de acusarem Louanne pelo uso de entorpecentes. “Não bastaram assassinar a minha filha, mas também fizeram questão de acabar com a reputação dela, culpá-la pela própria morte. Apesar da minha indignação, não vejo mais como tentar provar a negligência médica. Só entrego na mão de Deus para que isso não volte a acontecer com outra pessoa”, lamenta.
Fonte: G1 Goiás