Goiânia, Terça-feira, 5 de novembro de 2024
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Notícias UGOPOCI

27/08/2014 - Infância na violência

Na sala de casa, André (nome fictício) brinca com um carrinho, bem perto do desenho de um revólver que ele fez na parede. A história do menino, envolvido com roubo, furto e traficantes de drogas em Goiânia, ganhou repercussão há dois dias, a partir de uma reportagem do POPULAR. Na última quint-feira, ele teria sido flagrado roubando um celular de um passageiro de ônibus. André estaria com uma faca. O problema é, apesar da gravidade do caso, a Prefeitura de Goiânia, o governo estadual, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e o Judiciário estadual ainda não fizeram nada para apoiar a família e proteger a vida da criança, que está jurada de morte.

Em meio à omissão do poder público, relatada pelo presidente do Conselho Tutelar da Região Campinas, Dácio Anacleto Oliveira, que acompanha o caso, o menino continua fugindo de casa durante o dia e, geralmente, só volta de madrugada. A janela do quarto dele está com a grade arrebentada e, acima dela, ele desenhou o horário 4:20, um código de referência ao consumo de maconha. O menino espalhou o símbolo por quase toda a casa. “Vi o tio que tem droga (traficante) desenhar e aprendi”, disse ele, enquanto andava de um lado para o outro dentro da residência.

Apesar de a Constituição prever que crianças e adolescentes devem ser tratados como prioridade absoluta, o menino segue sem o amparo da Prefeitura e do governo de Goiás. “Ninguém veio aqui até hoje, nem para saber como está a nossa situação e se tem alguma saída”, reclamou a mãe do garoto. “A mãe também foi omissa em algum momento, mas o principal problema é a falta de políticas públicas. Veja a situação deste setor, por exemplo”, apontou o conselheiro tutelar Omar Borges.

Na porta da casa de André, no Jardim do Cerrado 1, na Região Oeste de Goiânia, uma área onde deveria ser construída uma praça está tomada pelo mato e lixo, sem contar que a região é uma das mais prejudicadas pela falta de estrutura. O bairro, que fica a cerca de 20 quilômetros do Centro de Goiânia, fica no meio do nada. Uma igreja dá as boas-vindas a quem chega ali. Mas só isso. “Quero sair, não vou ficar aqui. Tem nada para fazer”, disse o menino, descalço e com os pés marcados pela poeira do chão batido que toma conta do setor.

O conselheiro Dácio reclama da falta de apoio. “O MP já deveria ter entrado neste caso, principalmente porque envolve criança”, destacou ele. A repercussão do caso André na imprensa não significa, necessariamente, que o MP deve agir de ofício, segundo a promotora de Justiça Karina D’Abruzzo, coordenadora da área da Infância e Juventude do órgão. Segundo ela, nenhum promotor acompanha o caso. “Não identifiquei nenhum procedimento no MP”, disse. O conselho tutelar vai enviar hoje um relatório sobre o caso ao órgão ministerial e antecipou que vai acionar a Corregedoria-Geral de Justiça do Estado e até o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), caso haja omissão do Juizado da Infância e Juventude de Goiânia, que não se pronunciou.

OAB-GO quer exames psicológicos

27 de agosto de 2014 (quarta-feira)

A Ordem dos Advogados do Brasil de Goiás (OAB-GO) vai enviar hoje um ofício ao Conselho Tutelar da Região de Campinas, que acompanha o caso de André, para que ajude na mobilização por pedidos de exame psicológico para o menino e a mãe dele. “Vamos fazer solicitação amanhã (hoje) de exame psicológico para a criança e, se for o caso, para a mãe, também, com indicação do conselho tutelar”, antecipou a presidente da Comissão de Direitos Humanos da entidade, Mônica Araújo de Moura.

A advogada disse que instaurou um processo administrativo para que a OAB-GO também acompanhe o caso e cobre as devidas providências dos órgãos do Executivo e do Judiciário. “A Prefeitura e o Estado devem garantir políticas, mas o Ministério Público também tem de atuar, sim, com mais atenção neste caso”, observou a especialista.

Fonte: O Popular