20/08/2014 - Propostas absurdas marcam estreia da propaganda na TV
O horário eleitoral começou ontem com os presidenciáveis se apresentando ao eleitor, mas o que chamou atenção mesmo foi a propaganda dos candidatos a deputado federal. Houve candidato que chegou a pedir votos para se eleger e “cuidar da família e dos amigos” (leia reportagem nesta página), além de outros que, pegando carona na crise da segurança pública – o tema mais frequente no horário dos que buscam cadeiras na Câmara dos Deputados –, defenderam a pena de morte e a castração química, propostas consideradas inconstitucionais por especialistas consultados pela reportagem.
Para os candidatos ao governo estadual, a campanha eleitoral na TV e no rádio começa hoje (veja quadro ao lado) e a segurança pública também deve dominar a pauta de propostas.
Como tema principal da campanha deste ano até o momento, a insegurança foi explorada pelos candidatos a deputado federal, principalmente a redução da maioridade penal, medida mais citada (40,6%) pelos entrevistados na pesquisa Serpes/O POPULAR, publicada ontem, como fundamental para reduzir os índices de criminalidade em Goiás.
A defesa mais enfática da proposta que prevê a prisão de jovens que ainda não atingiram a maioridade veio da deputada federal Magda Mofatto (PR), que tenta a reeleição. Em tom dramático e com a exibição de imagens em preto e branco que remetem a situações de violência, um narrador introduz a discussão da maioridade penal, que é encerrada pela candidata. “O menor bandido rouba, mata e estupra, mas logo é liberado e volta para o crime protegido pela lei”, diz.
Em seguida, imitando o alerta do Ministério da Saúde incluído nas propagandas de cigarro, surge a mensagem: “Evite candidato que não tem compromisso com o fim da criminalidade”. No site do Tribunal de Justiça (TJ-GO), Magada aparece como ré em processos por improbidade administrativa e crime ambiental.
Apesar de colocada nesta campanha com ares de novidade que pode mudar o panorama da segurança pública, a discussão da redução da maioridade penal é antiga e novas propostas com o mesmo objetivo não alteram o trâmite das que já estão no Congresso. Só na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara há 21 projetos com este objetivo, sendo o primeiro de 1993, de autoria ex-deputado Benedito Domingos (PP-DF).
Governadoriáveis
O governador Marconi Perillo (PSDB), candidato a reeleição, terá o maior tempo entre os governadoriáveis na TV, 7 minutos e 19 segundos, o que representa grande parte do que terão juntos Iris Rezende (PMDB), Antônio Gomide (PT) e Vanderlan Cardoso (PSB).
Quem abre o programa é Vanderlan, que deve apresentar sua trajetória política. Marconi deve focar nas realizações de seu governo e apresentar propostas para a segurança. Gomide deve falar de sua gestão em Anápolis e Iris falará do histórico de suas administrações.
Candidatos prometem o impossível
20 de agosto de 2014 (quarta-feira)
Magda Mofatto apostou no clima de insegurança
Apesar de venderem a ideia de que encontraram a solução para o problema da insegurança, muitos candidatos a deputado federal prometeram ontem, durante o programa eleitoral, o que não podem cumprir, dizem especialistas em Direito consultados.
Para o advogado especialista em direito eleitoral Dyogo Crosara, este é ocaso do deputado federal Sandes Júnior (PP), que tenta se reeleger. Ele prometeu propor a castração química de estupradores, punição que a Constituição Federal não permite, explica Dyogo.
“Trata-se de uma cláusula pétrea, um dispositivo constitucional que não pode ser alterado nem mesmo por emenda constitucional porque viola o princípio da dignidade humana.” A Constituição não permite o castigo físico.
Baseados nas pesquisas que apontam a preocupação da população com o aumento da criminalidade, muitos que postulam uma cadeira na Câmara dos Deputados defenderam a pena de morte. Foi esse o caso de Rocha, que tenta uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo PSDC. “Quem prometeu está vendendo algo que não pode entregar”, observa o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Goiás, Henrique Tibúrcio.
A Constituição só permite a pena de morte em caso de guerra declarada e essa matéria também não está sujeita à mudança por meio de emenda constitucional. “Só pode ser alterada por uma nova assembleia constituinte”, explica o presidente da OAB.
Sem poderes
As promessas vazias não param por ai. Na tentativa de obter o voto do eleitor do interior, muitos candidatos se comprometeram a levar obras para as mais diversas regiões do Estado. Mas não cabe a deputado federal executar obra.
Se eleitos, eles podem sugerir despesas a serem incluídas no orçamento, as chamadas emendas orçamentárias, que o governo federal pode ou não acatar. “Deputado não pode jamais executar obra, ele foi eleito para legislar”, diz Crosara. “E proposituras legislativas que realmente melhoram a vida da população eu não vi nenhum candidato fazer”, diz o advogado.
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Ele vai direto ao ponto: “Melhorar a própria vida”
20 de agosto de 2014 (quarta-feira)
Sem ao menos citar qualquer proposta, o candidato a deputado federal Marcão do Jardim Canedo (PTN) foi direto ao ponto para justificar, em sua propaganda eleitoral, os motivos pelos quais quer garantir uma cadeira na Câmara dos Deputados: garantir benefícios pessoais.
Em nove segundos de fala, Marcão é curto e grosso: “Todos que estão passando por aqui estão prometendo melhorias na saúde, educação e segurança. Eu prometo melhorar minha vida e a dos meus parentes e amigos”, diz o candidato, antes de informar seu número aos eleitores.
A propaganda de Marcão do Jardim Canedo virou piada ontem nas redes sociais.
Outro que chamou a atenção foi Helder Meira (PRP). Depois de prometer que vai “tirar dos sindicatos os pisos dos profissionais da saúde, educação, transporte e segurança pública”, ele completa o texto sugerindo que será o primeiro “cabra macho” goiano a assumir mandato de deputado federal.
“A Câmara Federal precisa de ‘cabra macho’ para funcionar e Goiás vai mandar o seu primeiro representante”, completa o candidato.
Também pelo PSDC, o candidato bispo Geraldo Lima aparece de óculos escuros, vestido com farda, boina e colete militares, sendo o último repleto de broches e condecorações. Ele dá um recado: “Sou a favor da opinião pública.” Depois, encerra repetindo seu número.
Fonte: O Popular