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15/08/2014 - Guardas atiram contra família

Por centímetros a pequena S., de 1,6 ano, não perdeu a vida na noite de quarta-feira depois que um integrante da Guarda Civil de Aparecida de Goiânia descarregou uma pistola Taurus calibre 380 no carro da família, que voltava de cultos evangélicos. Ela estava numa cadeirinha no banco traseiro que foi atingida pelos disparos provavelmente desferidos por Claudiano Alves Barbosa, 37 anos, oito deles atuando na corporação. Ele e o colega Wendell Dias Magalhães, 35 anos, ambos do serviço reservado, utilizando um veículo descaracterizado, tentaram abordar a família que, temendo um assalto, saiu em fuga. O caso está sendo investigado pelo 1º Distrito Policial de Aparecida de Goiânia.

O garçom Alcides Francisco Silva Filho e a mulher Odeidia Bernardo Rabelo Almeida, acompanhados das três filhas, as outras duas de 15 e 10 anos, tinham saído de casa no Setor Rosa dos Ventos, em Aparecida de Goiânia, para ir à igreja evangélica que frequentam. Eles deixaram a filha mais velha na casa de uma amiga, no Jardim Planície, porque elas iriam a um culto em outro templo. Por volta das 23 horas, quando pararam na porta da residência para pegar a filha, viram um Gol branco passar. Alcides buzinou diante da casa chamando a atenção das duas amigas que sairam. “Eu vi o carro passar e parar na esquina”, lembra T., a garota de 15 anos.

A adolescente contou que ao passar pelo veículo, o padrasto teve a impressão de ouvir um “pare”, mas como estava tarde e o carro descaracterizado, Alcides preferiu acelerar o Gol preto da família. A atitude provocou a ira dos dois ocupantes do Gol branco que passaram a atirar. Desesperado, Alcides acelerou ainda mais o carro. Um dos disparos estraçalhou o vidro traseiro e atingiu a parte de metal da cadeirinha de S. Outro projétil passou de raspão no banco traseiro e chegou ao parabrisa dianteiro, a poucos centímetros da cabeça do motorista. “Quando vi aquilo liguei para o 190 e contei o que estava acontecendo, a Polícia Militar ainda ouviu os tiros”, disse T. A adolescente abaixou a cabeça e segurou na mão da irmã que estava na cadeirinha.

O drama da família só não foi pior porque Alcides decidiu parar o carro diante do prédio da Delegacia Regional de Aparecida de Goiânia, na Avenida Furnas, nas proximidades do Terminal Araguaia e começou a buzinar. “Nesse momento, eles deram ré no carro e sairam correndo. Eu desci do carro e comecei a gritar e a bater na lataria para chamar a atenção e vieram uns homens lá de dentro da delegacia”, detalhou a adolescente. Como a PM já tinha sido acionada, uma viatura do 8º Batalhão chegou rapidamente e passou a perseguir o Gol por dois quilômetros. Os dois integrantes da Guarda Civil foram detidos no Residencial Araguaia.

Além de descobrir que os atiradores eram servidores da prefeitura de Aparecida de Goiânia, os policiais militares encontraram no carro a pistola 380, um simulacro de arma de fogo, dois carregadores, um cachimbo e uma pedra de crack de 4 gramas. “Vamos tentar descobrir se eles não estavam ali para assaltar”, comentou o titular do 1º DP, Thiago Alexandre da Silva. Segundo ele, houve uma sucessão de erros porque não havia motivos para os dois guardas civis atirarem na família. “Eles são membros do G2, serviço reservado da Guarda Civil, estavam em carro descaracterizado, não poderiam fazer a abordagem e um deles estava visivelmente embriagado”, afirmou o delegado.

Os dois guardas foram presos em flagrante e levados para a carceragem do 1º DP. Segundo o delegado, eles foram indiciados por tentativa de homicídio e porte de entorpecentes.

Suspeitos poderão ser exonerados

15 de agosto de 2014 (sexta-feira)

Secretário de Defesa Social e Guarda Civil de Aparecida de Goiânia, o sargento PM Jonas Alves Cachoeira, informou à imprensa que os dois membros da corporação serão alvo de uma sindicância e poderão ser exonerados. “Peço desculpas à família porque essa não é nossa orientação. A corregedoria vai apurar o episódio com rigor”, afirmou. O secretário chegou a dizer que os dois guardas tinham achado o carro suspeito, mas admitiu que em caso positivo o correto seria acionar uma viatura caracterizada para fazer a abordagem. Sobre os objetos encontrados no interior do veiculo da Guarda Civil, Jonas Cachoeira foi informado que poderiam ter sido fruto de alguma apreensão, mas também admitiu que por serem do serviço reservado não poderiam executar a ação.

O sargento Cachoeira afirmou ainda que nunca foram registrados problemas envolvendo os dois guardas, um com oito anos de corporação e outro com oito meses. “Houve erro. A equipe do G2 não tinha motivo para circular. Eles deveriam estar no quartel”, afirmou.

Conforme o secretário de Defesa Social, os 500 integrantes da Guarda Civil de Aparecida de Goiânia, homens e mulheres, atuam em parceria com a PM em abordagens de suspeitos e condução de presos. Entretanto, nessas situações só podem agir guardas em viaturas caracterizadas. A arma encontrada em poder da dupla, de acordo com o sargento Cachoeira, pertence a Claudiano e está registrada. Para ser ressarcida dos prejuízos materiais, a família terá que entrar com uma ação judicial contra a prefeitura.

Fonte: O Popular