Sem uma resposta conclusiva da polícia em relação às investigações sobre as mortes em série de mulheres na capital, a situação acaba ultrapassando a sensação de insegurança e medo. A situação tem causado constrangimentos para motociclistas que usam motos e capacetes pretos nas ruas por causa da ligação que as pessoas fazem com o suposto assassino.
“Está muito ruim e complicado pra gente. As pessoas saem correndo quando nos veem, principalmente mulher e crianças. Nos pontos de ônibus, então, todo mundo fica cismado querendo correr”, conta o encarregado de obras Márcio Alves Silva, que utiliza o veículo para trabalhar. Ele conta que até pensou em desfazer do veículo e dos acessórios. “Já pensei até em vender a moto, trocar o capacete e comprar outros de cores diferentes. A situação é lamentável”, enfatiza.
Receoso e revoltado a com a situação, o técnico em manutenção Márcio Freitas revela que motoristas chegam a subir os vidros do carro quando os veem. “Muita gente me olha estranho no trânsito. Às vezes, os motoristas chegam a fechar os vidros dos carros quando veem que estou numa moto preta e capacete preto. Até entendo essa situação de pânico que está havendo na cidade, mas é desagradável e constrangedora. Somos cidadãos de bem”, ressalta Márcio Freitas.
Comércio
Além da situação envolvendo diretamente os motociclistas, algumas lojas de acessórios para motos estão sofrendo com o reflexo negativo que gira em torno da falta de respostas conclusivas das investigações da polícia. “Depois dessa suspeita de um serial killer, várias pessoas estão vindo aqui procurando trocar o capacete preto por um branco ou de outra cor. Eles alegam que estão com medo de retaliações”, declara Raphael Vinícius, gerente de uma loja na Avenida 4ª Radial, no Setor Pedro Ludovico.
Já em outra loja da região a procura por acessórios na cor preta continua alta. “Aqui pra mim também não mudou nada. O capacete que continua sendo mais vendido é o preto”, declara o gerente de uma loja de acessórios para motocicletas Fábio Rodrigues. Entretanto, ele conta que no dia a dia dele a situação é diferente. “Tenho moto e capacete preto. Depois desses casos aí, um dia duas mulheres saíram correndo quando me viram na moto”, conta o gerente.
Pânico
A psicóloga e psicoterapeuta Purificación Martin alerta sobre um possível descontrole que pode haver na população caso as investigações não sejam concluídas rapidamente. “A população agora está alarmada com toda essa situação. Isso está gerando pânico, mas não é para menos. As pessoas estão evitando fazer coisas rotineiras, como estudar, trabalhar e passear. Está virando pânico”, salienta.
“Esses casos têm de se resolver rapidamente, pois é difícil controlar a situação popular. Além de uma pane, as pessoas podem começar a dar margem a enganos. E, infelizmente, motociclistas que têm características parecidas com as dos suspeitos podem sofrer agressões gratuitamente e até acontecer como houve no interior de São Paulo, onde uma dona de casa foi espancada até a morte e ela não tinha nada a ver com o caso”, lembra.
Famílias se reúnem com governador
Familiares de 12 mulheres que foram vitimas de homicídio nos últimos meses, em Goiânia, reuniram-se na tarde de ontem no Palácio das Esmeraldas com o governador Marconi Perillo; o secretário de Segurança Pública, Joaquim Mesquita, e com delegados que investigam os casos.
O encontro foi sugerido pelo governador para que as famílias obtivessem informações oficiais sobre o andamento das investigações. “Desde o primeiro caso, nós temos trabalhado em busca da solução para esses crimes. A polícia trabalha sigilosamente para não atrapalhar as investigações”, garantiu Marconi.
Durante a reunião, ele reafirmou sua convicção na capacidade das polícias que trabalham na investigação dos assassinatos. “A nossa polícia é tecnicamente muito bem preparada, sabe investigar, é bem treinada e, com certeza, chegará a todos os criminosos”, salientou.
Porém, nem o governador e nem os delegados que integram a força-tarefa que está investigando 16 mortes e uma tentativa de homicídio (17 casos no total) deram informações sobre o rumo das investigações. Apesar do convite do governador para prestar esclarecimentos, a maioria dos familiares das vítimas que estiveram na reunião se sentiu frustrada com a falta de respostas sobre os crimes. Até agora, a polícia desconhece o autor ou atores dos crimes.
“Esperava bem mais, achei político demais”, disse o estudante de engenharia mecânica Marcelo Oliveira Felipe, 30, irmão de Wanessa Oliveira Felipe, 22, assassinada em abril. Também descrente em relação ao avanço das investigações, a mãe de Taynara Rodrigues da Cruz, de 13 anos, morta no dia 15 de junho, Dalvani Rodrigues Barbosa, 58 anos, após o encontro com o governador, diz que acredita mais na “justiça de Deus”. “Como é que vão adivinhar quem é esse matador que matou minha filha? Como?”, questionou.
Na reunião, o secretário Joaquim Mesquita e os delegados envolvidos na investigação ouviram questionamentos das famílias sobre os trabalhos da polícia e garantiram que há uma força-tarefa empenhada 24 horas por dia para que os autores dos homicídios sejam presos. (Anderson Costa).
Fonte: O Hoje