A onda de boatos que corre nas redes sociais sobre a existência de um assassino em série que estaria atuando em Goiânia é um dos temas mais comentados na capital. Principalmente após a morte de uma jovem mulher no fim de semana, e com características semelhantes a outros casos registrados desde o início do ano: o suspeito em uma motocicleta e com um capacete de cores escuras aproxima-se, saca a arma e dispara contra a vítima, fugindo sem levar nada.
Ontem, conforme informações que circularam pela internet, seis pessoas foram “mortas” em diferentes setores. No entanto, nenhum caso foi confirmado pela Polícia Civil e Militar. Tal comportamento atrapalha o andamento das investigações que as duas corporações fazem em uma força-tarefa para tentar reduzir os índices de violência e, principalmente, elucidar os casos.
Diante desse panorama, de quem é a responsabilidade pela publicação de conteúdos que se alastram de maneira viral, principalmente pelo aplicativo de conversação WhatsApp, como a divulgada no final de maio? E o papel das redes sociais, como Twitter e Facebook? Até que ponto o cidadão pode levar a sério os textos veiculados?
Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com tese sobre análise do discurso jornalístico, Ângela Teixeira de Moraes avaliou em entrevista ao Jornal Opção Online nesta terça-feira (5/8) que a sociedade não teve tempo de aprender a administrar o poder de informação que tem em mãos. Para ela, o que gera o problema é o afã da novidade, ou seja, a pressa e ânsia pela divulgação do que não foi confirmado. “Acabam publicando de qualquer maneira. Falta educação”, destacou.
Professora do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás), Ângela Moraes afirmou que às vezes a própria imprensa replica esse tipo de prática. Para evitar a armadilha, a docente alertou que os profissionais da área –– que têm por dever de formação checar as informações que recebem –– devem sempre apurar o que é postado nas redes. “O que chamamos de fetiche da velocidade [da publicação] e do furo prejudica a qualidade da informação”, analisou.
Nesse cenário, o cidadão não compartilha somente os conteúdos virais, mas igualmente a responsabilidade pelo que é colocado nos sites, o que desencadeia uma consequência negativa para quem vai receber a informação. “As pessoas que publicam e replicam o que não é verdade não tem a noção do pânico e da histeria gerados. Há falta de prudência, na maioria das vezes”, pontua.
Também professora na UFG, Ângela Moraes apontou duas soluções para evitar esse tipo de caso. Uma delas seria parar e refletir a respeito das consequências vistas atualmente sobre a publicação de fatos sem juízo. Uma segunda opção seria ter responsabilidade com a informação, mas a partir de um processo educativo, que começaria no lar e seguiria na escola. “Ao mesmo tempo, quem publica é e não é responsável diretamente pela apreensão social”.
No sábado (2), após a morte da estudante Ana Lídia de Sousa Gomes, de 14 anos, em um ponto de ônibus no Setor Conjunto Morada Nova, região noroeste da capital, diferentes supostos casos de mortes por motoqueiros surgiram. O superintendente da Polícia Judiciária da Polícia Civil de Goiás, o delegado Deusny Aparecido, negou sequencialmente a veracidade do que foi disseminado.
No mesmo dia, o governador Marconi Perillo (PSDB) exigiu maior empenho na resolução dos casos, inclusive solicitando a presença de 15 delegados do interior do Estado em Goiânia, que já começaram a atuar na investigação.
Ainda no sábado, o titular da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), Murilo Polati, disse em entrevista a jornalistas que não crê na atuação de um serial killer. Porém, falou que a possibilidade de que alguém esteja agindo nesse modo é considerada pela polícia. “Nós não descartamos também que autores venham utilizando esse modo de agir inclusive para desviar a investigação. Dessa forma, seja por crime passional ou envolvimento com tráfico esse crime vai recair para o suposto maníaco.”
Conforme dados da polícia, 40 casos de homicídios contra mulheres foram registrados desde janeiro de 2014. Desse total, 11 inquéritos foram solucionados até o momento –– nessa lista estão inclusos crimes em que os autores estavam em motocicletas pretas e outros com dinâmicas de crimes diferentes.
No próximo mês, Ângela Moraes vai apresentar em Foz do Iguaçu (PR) o trabalho “A Positividade como Valor-notícia”, no 37º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Nele, a doutora questiona os motivos de atos bons não serem replicados na rede. A conclusão é a de que notícias negativas são mais valorizadas diante das positivas.
Outro ponto que será exposto é que a “coisa ruim” é mais rara que “a boa”, quantitativamente. “Dão valor ao que é raro. Mas se computarmos quantas pessoas estão sobrevivendo em relação às que estão morrendo, [o número] é bem maior. Mas isso não quer dizer que não se tenha de se importar com o negativo”, detalhou.
Fonte Jornal Opçao