Goiânia, Segunda-feira, 4 de novembro de 2024
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31/07/2014 - 11 mulheres executadas

Já são onze as mulheres executadas desde janeiro deste ano em Goiânia em situações bastante semelhantes em que a Polícia Civil ainda não apresentou nenhuma resposta. Todas as vítimas tinham idade entre 13 e 29 anos, foram mortas a tiros após abordagem de um homem em uma motocicleta, geralmente preta, usando capacete. Na maioria dos casos ele aborda a vítima e anuncia um roubo, exigindo dela o aparelho celular. Antes de ter o objeto, atira na mulher. Um tiro no peito. Raras vezes, mais de um tiro ou em outra região do corpo. Nenhum deles foi resolvido ainda pela Polícia Civil.

O último caso foi o do assassinato da auxiliar administrativa Juliana Neubia Dias, de 22, no dia 26, na Avenida D, no Setor Oeste, com um tiro no pescoço e outro no tórax. Ela estava no Fiat Palio do namorado, Mauro Stone, quando um homem usando capacete, parado ao lado de uma moto, aproximou-se e atirou contra ela. Uma amiga do casal também estava no carro. A amiga e o namorado nada sofreram.

No mesmo dia, cinco minutos depois, outra jovem foi baleada por um homem com características idênticas. Os projéteis extraídos das duas vítimas foram encaminhados para análise de confronto microbalístico.

A coincidência revelada nos casos seguidos de assassinatos de mulheres jovens em supostos assaltos, aliada a uma mensagem de áudio disseminada pelo Whatsapp, de uma mulher alertando sobre a existência de um assassino em série em Goiânia em maio deste ano, provocaram temor na população goianiense.

Um dos casos de repercussão é o de assessora parlamentar Ana Maria Victor Duarte, de 26 anos, ocorrida em uma lanchonete do Setor Bela Vista, no dia 14 de março. Ela estava sentada com o noivo e uma amiga quando um homem usando capacete preto chegou e anunciou o assalto, pedindo os celulares. Antes de pegar os pertences do grupo o homem atirou no peito da jovem e fugiu em uma motocicleta preta.

Polícia não descarta nenhuma possibilidade

O delegado Deusny Aparecido da Silva Filho, chefe da Superintendência de Polícia Judiciária (SPJ) da Polícia Civil, disse ontem que as mortes das onze mulheres citadas pelo POPULAR, se ainda não tiveram resposta, é porque ainda estão com a investigação em andamento e não descarta nenhuma hipótese. “De todos os fatos apurados até agora seríamos levianos em dizer que existe um assassino em série matando mulheres em Goiânia. O mesmo ocorreria se dissesse que não existe. Nenhuma hipótese pode ser descartada”, disse.

Ele explicou que a Polícia Civil está empenhada em desvendar todos os casos e que cada caso tem suas particularidades. “O crime de homicídio ou de latrocínio (roubo seguido de morte) são complexos e só dá para o delegado definir o que aconteceu ao final do inquérito”.

Deusny Filho disse que não tinha detalhes de cada uma das investigações e que suas considerações são com base na prestação de contas que lhe é dada pelos delegados dos casos.

O delegado-geral adjunto da Polícia Civil, Daniel Adorni, disse que, depois de falar com o delegado Murilo Polati, titular da Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH), soube que “não tem nada no mundo que justifique se falar em assassino em série”.

Segundo ele, Polati garantiu que diversos casos já tem autoria esclarecida, alguns com mandados de prisão solicitados à Justiça e outros casos prestes a ter a autoria esclarecida, com a investigação bem adiantada. “Não podemos dizer quais inquéritos estão resolvidos para não atrapalhar na prisão dos suspeitos”. Adorni disse ainda que o titular da DIH o informou que apenas dois ou três crimes contra mulheres ainda não tiveram a motivação esclarecida. “Mas em 90% dos casos, ele (Murilo Polati) me disse que a motivação foi passional ou por envolvimento com drogas ou com prostituição”.

Apesar de o delegado dizer que tem casos resolvidos, nenhum suspeito foi apresentado à sociedade.

Polati foi procurado pelo POPULAR, mas não atendeu ao telefone funcional da Polícia Civil nem na DIH. Ele também não atendeu a assessoria de imprensa da instituição para falar sobre as investigações. O secretário de Segurança Pública, Joaquim Mesquita, informou, por meio de sua assessoria, que não se manifesta sobre casos específicos.

“A morte da minha irmã é um mistério”

Maria José SilvaMaria José Silva A família da auxiliar administrativa Juliana Neubia Dias, morta aos 22 anos com um tiro à queima-roupa no dia 26, não entende qual poderia ser o motivo do crime. Ao POPULAR, a irmã da vítima, a dona de casa Mírian Aparecida Guiarte Dias, de 24 anos, clama por justiça.

A família tem ideia do que motivou o assassinato da Juliana?

Para todos nós a morte violenta da minha irmã ainda é um grande mistério. A Juliana odiava drogas e bebidas. Como a maioria dos jovens, gostava de sair para ir a um bar, jantar, mas raramente ia para as baladas. Ela saía com mais frequência em Itapaci, onde eu e nossos pais moramos.

A Juliana estava em um carro, parado em um semáforo. De repente, um homem com capacete aproximou-se e efetuou os disparos. O que você acha que pode ter acontecido?

As únicas coisas que me vêm á cabeça são assalto e ação de assassino em série, aquele que está usando motos para matar mulheres em Goiânia.

A Polícia Civil ainda não conseguiu identificar os autores de nenhum dos 11 casos ocorridos na capital nos últimos sete meses. Você tem esperança de que o autor do assassinato da Juliana seja preso?

Queremos que o caso seja resolvido o mais rápido possível e o responsável fique atrás das grades. Minha irmã era uma pessoa muito boa, que adorava viver. Ela não merecia ter sido vítima de um crime tão cruel.

A família de vocês mora em Itapaci. O que a Juliana fazia em Goiânia?

Ela estudava Ciências Contábeis no Setor Bueno, e trabalhava como auxiliar administrativa em uma empresa da área de construção civil.

Quais eram os planos da Juliana para o futuro?

Ela se formaria em Ciências Contábeis no início de 2016. Pensava em ter um trabalho melhor, comprar uma casa e viver confortavelmente. A Juliana era madrinha dos meus dois filhos, de 7 anos e 2 anos, e havia se comprometido em pagar os estudos do mais velho. Ela era muito querida, está fazendo muita falta para todos nós.

A família está organizando alguma manifestação pedindo justiça?

Vamos fazer uma caminhada pela paz, no próximo dia 3, domingo, às 9 horas, no Parque Areião. Esperamos a presença de amigos, professores e familiares. Vamos pedir que o caso não fique impune para que outras pessoas inocentes como a Juliana não sejam assassinadas.

Fonte: Jornal O Popular