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31/07/2014 - Trafico de pessoas

Uma campanha de conscientização promovida pela Secretaria da Mulher e da Igualdade Racial (Semira) que se encerra hoje levanta a discussão sobre um crime recorrente no País, em especial em Goiás: o tráfico de pessoas. Um relatório do Ministério da Justiça, em parceria com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UnoDC), aponta que a maioria das vítimas de tráfico de pessoas no Brasil são mulheres pretas ou pardas. Dados do Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conatrap) apontam que antes essas pessoas eram levadas para nações europeias, mas, nos últimos anos, a maioria das vítimas vem sendo encaminhada para países da América do Sul, como Suriname e Guianas. Ainda de acordo com o comitê, a cada oito pessoas traficadas, duas são goianas, considerando-se mulheres e travestis.

A presidente da organização não governamental (ONG) Astral e representante goiana no Conatrap, Beth Fernandes, explica que uma das causas da mudança da rota do tráfico é a ampliação da fiscalização internacional. “Loiras continuam sendo levadas para a Europa, pelo perfil. Aqui, cresce o tráfico para países vizinhos, mas as condições de escravidão são semelhantes e até piores.”

Outros Estados

Segundo ela, a maioria das vítimas atualmente vem do Mato Grosso, Pará e Amapá, justamente pelo perfil físico. Segundo o relatório da UnoDC, a Polícia Federal detectou em 2012 o maior número de casos de tráfico de pessoas desde 2006: foram 348 registros. Três órgãos do governo federal – Secretaria Nacional de Segurança Pública (que reúne dados das políciais Civil e Militar no País), PF e Polícia Rodoviária Federal (PRF) – registraram 966 ocorrências e inquéritos. Das 130 vítimas de tráfico de pessoas identificadas, 104 eram do sexo feminino e 26, do masculino. O levantamento do Executivo federal também apontou que 65% das vítimas de tráfico de pessoas têm até 29 anos.

Os números não são mais recentes porque, segundo o Ministério da Justiça, essa é a primeira vez que vários órgãos de enfrentamento ao tráfico humano se reúnem para compilação dos dados. Conforme o levantamento, quando o critério é a cor da pele, 59% das vítimas mulheres são pretas ou pardas. Dentre os homens, a porcentagem de pretos ou pardos, vítimas do crime, é ainda maior: 63%. Além disso, o relatório observa que, em 2012, 43% das pessoas resgatadas eram crianças e adolescentes. Em 2010, esse percentual era de 60%. O número de casos de tráfico de pessoas registrado pela PRF em 2012 é o maior identificado pela corporação desde 2008, quando haviam sido localizadas 906 vítimas.

Metade do tráfico é para exploração sexual

Das oito vítimas de tráfico de pessoas identificadas pelos consulados brasileiros no exterior em 2012, metade foi traficada para fins de exploração sexual e a outra metade, para exploração laboral. Dois brasileiros foram localizados na Alemanha e outros dois, na Índia. Em relação aos sete anos anteriores, é a primeira vez que Sérvia e Romênia apareceram no mapa do tráfico de brasileiros. Em 2011, o Itamaraty havia identificado nove brasileiros traficados no exterior e, em 2010, 218.

Políticas

Beth Fernandes critica a falta de políticas em Goiás de enfrentamento aos crimes. “Falta conversar cara a cara com essa pessoa que se enquadra no perfil da vítima”. Beth, que também é psicóloga, destaca que a maioria das aliciadas, sejam mulheres ou travestis, sempre está em busca de uma vida melhor para a família e quase nunca acredita na possibilidade de ser submetidas a situações degradantes. “É preciso traçar estratégias com todos os públicos, mas a mulher agredida, violentada e pobre tem mais predisposição”.

Mas nem sempre as mulheres são traficadas para exploração sexual. Beth acredita que esse percentual chega a 80%, mas existem casos de pessoas levadas para trabalho doméstico, cuidado com idosos e trabalho em indústrias. “Mas sempre com as mesmas característica de privação de liberdade, recolhimento de passaporte e outros documentos e falta da aplicação de direitos básicos”.

Ações

A Secretaria da Mulher e da Igualdade Racial (Semira) realiza desde segunda-feira, 28, ações para conscientização sobre o crime internacional de tráfico de pessoas. Na segunda, um grupo da pasta esteve em Anápolis em caminhada. Na terça, junto com a Polícia Rodoviária Federal, a Semira esteve em motéis e casas de shows de Aparecida de Goiânia. Ontem, o grupo mobilizou o aeroporto de Goiânia para entrega de panfletos com a participação da titular da pasta, Gláucia Teodoro. Hoje, das 10 horas até o meio-dia, a mobilização será no posto da PRF na BR-060, na saída para Anápolis.

Secretária da Comissão de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Semira, Giovanna Alves Mendonça Teles afirma que todas as ações são importantes para ampliar a percepção do crime. “Infelizmente, o tráfico de pessoas avança e toma novos contornos. Goiás ocupa o quarto lugar no ranking dos Estados que mais enviam essas pessoas para algum tipo de exploração”. Essa é uma das razões que ela defende a conscientização com pessoas que podem ser o público desse crime.

Fonte Portal O Hoje