Dois anos após a assassinato de Michelle Muniz do Carmo, de 30 anos, o pai da vítima, o deputado estadual Luiz Carlos do Carmo (PMDB) afirma que o fato de os suspeitos terem sido presos não ameniza a perda. “Sinto falta dela todo dia. É uma dor no coração que não passa nunca”, disse o pai ao G1.
Segundo do Carmo, toda sua família foi afetada pela perda de Michelle. O político contou que uma de suas filhas chora todos os dias por causa do assassinato da irmã. Devido ao medo de que novas tentativas de assalto aconteçam, o deputado contratou seguranças particulares para acompanhar seus parentes e também para vigiarem sua residência.
A assessora política foi morta em uma tentativa de assalto em maio de 2012, em uma distribuidora de bebidas de Goiânia. Seis meses depois, cinco pessoas acusadas de envolvimento no crime foram condenadas pela Justiça. “O caso da Michelle, onde os culpados estão presos, é uma exceção”, disse o deputado.
No processo, a polícia prendeu cinco pessoas que estariam envolvidas no latrocínio. Quatro delas foram condenadas à prisão em regime fechado, com penas que variam entre 23 e 27 anos de reclusão. O quinto criminoso, responsável por emprestar a arma para que o grupo cometesse o assalto, foi condenado a 3 anos e seis meses de prisão, mas a pena foi convertida em prestação de serviços à comunidade e pagamento de dois salários mínimos a uma entidade filantrópica. A polícia afirma que um sexto homem também participou da ação, mas está foragido desde o dia do crime.
O deputado ressalta que a sensação de que a justiça tinha sido feita foi ofuscada pela libertação de um dos cinco condenados. Segundo o pai de Michelle, o acusado de ter emprestado o carro para que os comparsas pudessem cometer o crime recorreu da sentença e aguarda um novo julgamento em liberdade. O Tribunal de Justiça de Goiás não soube informar sobre pedidos de liberdade provisória, pois o caso corre em segredo de Justiça.
“Quando eles foram sentenciados, eu tentei virar a página da tragédia, mas com a soltura de um dos envolvidos, isso machuca. A impressão que fica é que a Justiça no Brasil não é bem feita”, lamenta o deputado.
Ainda segundo o pai de Michelle, a sensação de insegurança que foi despertada após o latrocínio de sua filha continua. “Hoje a situação continua a mesma, os presos comandando o crime de dentro da CPP. E não tem policial suficiente na rua para garantir a segurança da população”, diz do Carmo.
A Secretaria de Administração Penitenciária e Justiça (Sapejus) informou que o problema de presos usando celulares para se comunicar com pessoas fora das cadeias “é um realidade em todo país”, mas que o órgão já iniciou o processo de aquisição de equipamentos eletrônicos como sistemas de revistas eletrônicas e Raio X para a inspeção corporal, além da contratação de serviços contínuos de bloqueio de sinal de telefonia móvel. O valor total dos investimentos chega a R$ 11,5 milhões.
Mudança polícia
Após acompanhar toda a investigação do assassinato de sua filha, o deputado estadual afirma ter percebido diversas falhas e lacunas nas leis e, de maneira geral, na segurança pública. Com isso, fica ainda mais difícil, segundo ele, enfrentar a dor da perda de uma filha. “Não temos policiais suficientes na rua. Quando conseguem pegar o bandido, não tem onde prender, porque as delegacias e presídios estão cheios. Quando consegue, existe uma demora muito grande em julgar, então fica o sentimento de impunidade”, disse.
O deputado reclama da facilidade com que acusados de cometer crimes são libertados. De acordo com a legislação brasileira, após cumprir dois quintos da pena em regime fechado e ser comprovado bom comportamento, o detento ganha o direito do regime semiaberto, quando pode trabalhar durante o dia e esse tempo de atividade pode ser descontado em sua pena total. “Os assassinos da minha filha já estão presos há dois anos. Em mais dois já vão estar soltos novamente, sendo que a pena deles é de mais de 20 anos”, reclama o pai de Michelle.
Como deputado estadual, ele explica que não tem autonomia para legislar sobre assuntos penais e que apenas deputados federais e senadores podem mudar as leis sobre esse tema. "Eu passei mais de um ano estudando para montar um projeto de lei para apresentar a deputados federais, para evitar que houvesse essa redução na pena, que todos que cometem crimes hediondos não tivessem esse benefício da progressão de regime para o semiaberto, mas nenhum político deu atenção”, relata.
O crime
De acordo com o processo, três dos criminosos estavam em um veículo Chevrolet Celta branco, que tinha sido emprestado por um dos comparsas. Eles passaram em frente à distribuidora quando viram estacionado o carro de Michelle, um Honda Civic LXL de cor branca.
Depois de estacionarem próximo ao veículo da vítima, um deles passou para o banco do motorista do Celta, enquanto outros dois desceram. Aproveitando o momento em que Michelle saiu do carro para comprar bebidas em uma distribuidora, o primeiro do grupo seguiu para o carro da vítima, entrando pelo lado do condutor. O segundo criminoso tentou abordar a vítima sacando a arma, que tinha sido emprestada por outro integrante da quadrilha.
Como mostram imagens registradas pelas câmeras de segurança da distribuidora no dia do crime, Michelle percebeu o assalto e correu em direção ao carro, entrando pelo lado do passageiro. Momentos depois ela foi baleada. A vítima morreu no local.
Fonte G1 Goiás