São 9 da manhã e na esquina da Avenida Paranaíba com a Rua 7, no Centro de Goiânia, sem a menor preocupação com a intensa movimentação de comerciantes e populares, moradores de rua se acumulam em frente ao muro da Igreja Cristã Evangélica para consumir drogas. O local é um de vários pontos no Centro da Capital em que usuários de drogas, em situação de rua, se reúnem para fazer uso de entorpecentes.
A Polícia Militar diz que atua na região com abordagens e monitoramento ostensivo, mas explica que a pouca quantidade de drogas que os usuários portam dificulta a realização de flagrantes.
No Centro, três locais são considerados críticos pela PM. Além da Rua 7 com a Paranaíba, outros pontos para uso e comércio de drogas são os cruzamentos das ruas 8 (Rua do Lazer) com a 3 e a porta de uma distribuidora na Avenida Independência, entre a Avenida Goiás e a Rua 72. “Nesses três espaços, o comércio ocorre durante 24 horas por dia”, explica o subtenente Luiz Claudio Laureano, da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), responsável pelo policiamento da região central.
Ao longo da Rua 8, no cruzamento com as ruas 2 e 1, próximo a um bar e uma boate, o subtenente diz que, durante a noite, é comum o comércio de drogas.
Na Avenida Paranaíba com a Rua 7, onde a equipe de reportagem esteve, existe uma minicracolândia a céu aberto. Cerca de 20 pessoas se aglomeram em frente à igreja e fazem de lá praticamente sua morada. São colchões e cobertores espalhados ao longo da calçada, e nenhum usuário se importa com quem passa por ali.
Usuários passivos
Segundo vizinhos do local, há cerca de dois meses é que a situação piorou, quando os moradores de rua mudaram definitivamente para lá, após serem expulsos da frente de um estacionamento que foi reativado na esquina da Rua 5 com a 6.
Para um dos frequentadores da igreja, a presença dos moradores ao lado deixa muitos fiéis assustados. “Somos usuários passivos. Durante as celebrações religiosas, o cheiro e a fumaça das drogas invadem o salão. Além disso, já tivemos vários casos de pessoas assaltadas, principalmente mulheres e idosos. Há também muitos registros de homicídios e troca de tiros aqui na frente”, conta.
Comerciantes também reclamam da presença dos usuários de drogas na Rua 7. A dona de uma loja de artigos de antiguidade destaca que, além dos usuários assustarem e afugentarem os clientes, muitos acabam urinando na porta dos comércios na região, o que gera muito mau cheiro. “A polícia até que atua, mas somente com abordagens, e não pode fazer mais nada, além disso”, afirma uma empresária que prefere não se identificar.
Na Avenida Goiás com a Independência, os comerciantes também reclamam da presença dos moradores de rua nas proximidades da Rua 72. “Tivemos que retirar a cobertura do teto da nossa fachada para que eles não se acumulassem aqui no período da noite”, ressalta um vendedor.
De acordo com ele, é constante o registro de mortes na região por conta de acertos de contas por drogas. “Durante o dia não temos problemas. À noite, depois que fechamos, é que eles tomam conta e a situação se complica. Já chegaram a invadir a nossa loja mais de duas vezes, levando computadores e impressoras nas duas vezes”, acrescenta.
Questão social
De acordo com o subtenente Laureano, na região há presença de câmeras de monitoramento, mas isso não impede a atuação dos traficantes e de usuários na região. Recentemente uma criança de 14 anos foi atingida durante um tiroteio em frente a uma distribuidora de bebidas. Fato comum na região do Centro, garante o PM. O policial informa ainda que na região existem aproximadamente 80 moradores de rua que são usuários de drogas.
Para o subtenente Laureano, a PM faz o trabalho de abordagem, mas muitos usuários e traficantes portam pouca quantidade de drogas, o que não permite fazer flagrante como comércio de drogas.
Na Rua 8, que o PM caracteriza como ‘boca de fumo’, os traficantes moram em um prédio vizinho à Rua do Lazer e, quando a PM chega para fazer a abordagem, acabam correndo para casa para se esconder, o que dificulta a autuação dos mesmos.
Laureano lembra que muitos usuários, em situação de rua, têm família, mas preferem ficar vagando pelo Centro da cidade para ter acesso facilitado às drogas. O subtenente também justifica que quando há a prisão de usuários, a polícia esbarra na questão social, que é não ter para onde encaminhá-los.
A única alternativa que sobra é encaminhá-los para presídios superlotados, que não têm condições de oferecer tratamento adequado a esses usuários de droga.
Fonte: Portal O Hoje