Armas e drogas trazidas da Bolívia por integrantes da facção carioca Comando Vermelho (CV) em Goiás eram repassadas para Santa Catarina e duas favelas do Rio de Janeiro, incluindo a Rocinha. A constatação é da Operação Espectro, coordenada pela Polícia Civil de Goiás, que resultou na prisão de cinco líderes da facção e na identificação de outro membro que já estava detido. A estimativa é que o grupo possui mais de 450 integrantes no Estado e movimenta cerca de R$ 10 milhões por mês. O caso vai tramitar na 10ª Vara Criminal.
Deflagrada há cinco meses pela Delegacia Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), a operação tinha como objetivo encontrar os líderes do CV em Goiás. Foram realizados 16 mandados de busca e apreensão e cinco mandados de prisão. Entre as apreensões: oito veículos que somam R$ 700 mil, relógios, máquinas de contar dinheiro, R$ 200 mil em espécie e oito armas, sendo elas quatro pistolas 380, um rifle, um revólver calibre 38, um fuzil 556 e uma espingarda.
Titular da Draco, o delegado Douglas Pedrosa explica que integrantes do CV já haviam sido identificados, mas o objetivo era mapear o topo da pirâmide. “Esta é apenas a primeira fase da operação e a dificuldade de identificar os membros foi grande porque eles se travestem de empresários, lavam o dinheiro e levam uma vida de luxo, morando em condomínios, indo a restaurantes caros. Começamos achando que o BH era quem comandava, mas descobrimos que o verdadeiro líder é o André Luiz de Oliveira”, completou.
Stephan de Souza Vieira, o BH, é apontado desde o ano passado como uma liderança do CV em Goiás. Em novembro, ele chegou a fugir da prisão em um carro de luxo, poucas horas depois de ter sido transferido para a Colônia Agroindustrial do Regime Semiaberto, em Aparecida de Goiânia. Foi recapturado em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, no início deste ano e transferido para o presídio estadual de Formosa, onde ficam supostas lideranças da facção carioca.
Apontado como o líder do grupo, André Luiz de Oliveira comandaria as ações da facção do interior de Santa Catarina. Ele foi preso pela operação ainda em fevereiro. Maycon Giovani Caetano, trabalhava como seu secretário e lavava o dinheiro ilícito comprando carros, lanchas e imóveis. Webert Amaral Dias, vulgo Boi, seria o gerente financeiro do CV em Goiás e, sem antecedentes criminais, vivia em um condomínio de luxo, em Goiânia. Ele recolhia o dinheiro e passava para André, por meio de contas de laranjas.
“Eles comercializavam cerca de uma tonelada de pasta base de cocaína por mês e em apenas uma conta de laranjas identificamos uma movimentação anual de R$ 135 milhões. Apenas na casa de Webert, encontramos quase R$ 140 mil em espécie”, afirma o delegado adjunto da Draco, Francisco Costa. André e Boi atuavam como “fantasmas”, mas só agora foi identificada a ligação deles ao CV.
Arsenal
O papel de Thiago Alves, conhecido como Kebec, seria o de intermediar a compra de armas do exército boliviano, que eram distribuídas em Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Ele foi localizado e preso em Cocalinho, no Mato Grosso. Em 2016, chegou a ser detido em flagrante com mais de dez armas. As informações relacionadas à Bolívia serão repassadas à Polícia Federal (PF). Ainda não foi possível identificar o traficante internacional que abastece o grupo criminoso.
Hudson Dias Vieira Filho, conhecido pelo apelido de HD, atuava de dentro da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), em Aparecida de Goiânia, onde estava preso desde 2008. “Toda a distribuição passava por ele, incluindo compra e comercialização de drogas e armas. Inicialmente, ele não era apontado como integrante do Comando e chegava a pagar outros presos da POG para assumir suas atividades. Com isso, ele conseguiu, inclusive, não ser transferido para Formosa e continuou a comandar o esquema de dentro do sistema prisional”, afirma Francisco Costa.
Avião de Jussara
Kleber Marques, conhecido como Gordão, foi preso pela operação em Senador Canedo e seria responsável pelo transporte de drogas e de armas. Ele é envolvido em um caso de grande repercussão: o bimotor Piper Aircraft com 660 quilos de pasta base cocaína que fez um pouso forçado em uma fazenda de Jussara, interior de Goiás, em junho do ano passado. O dinheiro da compra da aeronave teria saído de uma conta de Kleber.
Na época da apreensão das drogas, José Olímpio de Carvalho Neto foi apontado como o dono da encomenda. Ele seria ligado à paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). O próprio Gordão teria responsabilizado o integrante da facção rival, segundo o delegado Douglas Pedrosa. Em setembro do ano passado, Neto foi executado em uma loja de carros batidos no Parque Oeste Industrial. No entanto, as investigações apontam que ele não era o verdadeiro dono da droga.
No dia 25 de junho de 2017, um avião Super Tucano da Força Aérea Brasileira (FAB) interceptou o bimotor com cocaína na fronteira entre Mato Grosso e Goiás. O piloto não obedeceu a ordem de pouso e o piloto da FAB deu um tiro de aviso. Em seguida, o bimotor fez um pouso forçado em uma fazenda de Jussara e abandonou o avião com seu parceiro. Uma equipe da PM em um helicóptero fez a apreensão dos fardos de cocaína. A dupla foi presa no dia seguinte em um hotel de uma cidade vizinha. Ambos foram condenados pela Justiça Federal (PF) a cerca de 20 anos de prisão cada um (Colaborou Thalys Alcântara).