Leonardo Dias Mendonça, de 55 anos, que já foi considerado como o maior traficante do Brasil, deve ir para o regime semiaberto ainda nesta quarta-feira (1°). A decisão judicial que determina a progressão de pena é do último dia 20, mas a Diretoria Geral de Administração Penitenciária (DGAP) ainda aguardava uma manifestação do Ministério Público de Goiás (MP-GO), que já foi feita. Toda a documentação judicial que permite a soltura de Leonardo chegou na última segunda-feira ao cartório da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, que cuida dos casos dos presos de regime fechado.

A semiliberdade de Leonardo, também conhecido como “Barão do Tráfico”, está sendo assistida de perto pela imprensa e pelo Estado. Os agentes penitenciários responsáveis pelo cartório da POG estão sendo mais criteriosos. O objetivo é não repetir casos como o de Leomar Oliveira Barbosa, de 55 anos, o “Carioca”, que foi solto de maneira ilegal no dia 4 de julho. Os servidores receberam uma decisão de soltura e não teriam conferido se o preso tinha outros mandados. O caso é investigado e os envolvidos foram afastados.

Além disso, Dias Mendonça possui diversas condenações por tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e falso reconhecimento de firma. A soma de suas penas chega a 79 anos e sete meses. No entanto, a Lei de Execução Penal prevê que o detento pode sair do regime fechado para um mais brando após cumprir um sexto da pena e se possuir bom comportamento.

Em sua decisão, a juíza Suelenita Soares Correia, da 5ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), aponta que Leonardo já havia cumprido o tempo suficiente para a progressão de sua pena no dia 24 de maio e que seu comportamento é considerado “bom” desde 2013, quando foi transferido do Presídio Federal de Segurança Máxima de Catanduvas para Goiás.

Assim que for transferido para a Colônia Agroindustrial, uma tornozeleira de monitoramento eletrônico será instalada em Leonardo e ele terá o direito de passar o dia fora da unidade. Caso ele consiga um emprego, que seja aprovado pela DGAP, ele poderá ficar permanentemente fora do presídio, sendo monitorado apenas pelo equipamento.

A regra foi instituída este ano depois de um massacre na unidade, que deixou um saldo de nove mortos e 14 feridos, no dia 1º de janeiro. Na época, foi constatado que a Colônia não tem condições de receber todos os detentos do semiaberto para pernoitar. Uma nova unidade deve ser construída.

Na decisão também são determinadas uma série de restrições que Leonardo deve cumprir. Entre elas está a que ele não pode consumir bebida alcoólica, nem frequentar locais que são considerados de baixa reputação, como casas de prostituição. Além disso, ele deve se matricular em uma instituição de ensino pública para terminar os estudos.

Histórico

Leonardo nasceu em Bambuí, Minas Gerais, mas foi criado em Goiânia, para onde se mudou aos 12 anos de idade. Entre o final dos anos 1990 e o começo dos anos 2000, ele era considerado o maior traficante de drogas do Brasil. Investigações da Polícia Federal daquela época revelaram sua ligação com líder da facção carioca Comando Vermelho (CV), Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Leonardo venderia drogas para o CV.

Segundo essas investigações, o grupo liderado por Leonardo comprava cocaína das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Na transação comercial, o brasileiro ofereceria armas, além de dinheiro. Os centros de distribuição da substância eram no Pará, Amazonas, Guiana e Suriname. No mesmo período, a polícia federal americana chegou a dizer que ele seria o principal fornecedor da droga para os Estados Unidos e Europa. No Suriname, Leonardo seria sócio de Desire Delano Bouterse, que foi ditador do país entre 1980 e 1987, e do filho do político, Dino Bouterse.

Já em 2005, a Justiça congelou mais de R$ 25 milhões em bens da quadrilha de Leonardo. Eram fazendas no Pará, mansões, apartamentos e lotes. Na época ele assumia a participação no tráfico de drogas, mas dizia que a maior parte dos bens tinha sido adquirida de maneira honesta.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa de Leonardo até o fechamento desta edição.

Pena reduzida em mais de 2 anos por trabalho e estudo

Apesar de já ter sido considerado o maior traficante do Brasil no início dos anos 2000, Leonardo Dias Mendonça, de 55 anos, chamado de “Barão do Tráfico”, tinha um bom comportamento dentro do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde está preso sem interrupções desde 2013. O detento teve a remição de dois anos e dois meses da pena por ter estudado, trabalhado e lido livros.

Segundo seu relatório de cumprimento de pena, Leonardo fez cursos de empreendedorismo, legislação trabalhista, educação formal e gestão de qualidade. Ele concluiu o ensino fundamental e chegou a ser aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2012. Além disso, trabalhou no refeitório e na fábrica de bolas quando estava preso no Mato Grosso.

Leonardo cumpre a pena de regime fechado no Núcleo de Custódia, local que é considerado com maior segurança e sem a presença de celulares. Até essa última noite, ele dormia na cela 6 da ala B, um alojamento individual pintado de branco, com ventanas no teto e uma bancada de concreto, que serve de apoio para o colchão. O detento quase não recebia visitas. Quando tinha, era de sua filha, que ia raramente ao Complexo.

Dias Mendonça não tinha uma boa relação com as lideranças das alas B e C da Penitenciária Odenir Guimarães (POG). Por não ser filiado a nenhuma facção criminosa, não foi transferido para os presídios estaduais de Anápolis e Formosa. Em março, o Estado enviou presos ligados às facções Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) para as unidades dessas duas cidades, que são consideradas como de segurança máxima. Um dos objetivos é evitar conflitos entre os detentos.

Racha
Há rumores que ele não possui mais uma relação próxima com o líder do CV, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. No ano 2000, quando ambos foram presos na Operação Diamante, a Polícia Federal apontava que Leonardo vendia cocaína para a facção carioca. Em depoimento para a Justiça, Beira-mar negou que conhecia o traficante de Goiás.

Fonte: O Popular