No Setor Parque Anhanguera II, na Região Sudoeste de Goiânia, ninguém sai de casa depois das 20 horas e todo morador evita as imediações da Rua 21 de Abril, onde está concentrado o tráfico de droga no bairro. Os traficantes não ameaçam os moradores, mas muitos já foram atingidos pelas balas perdidas do confronto entre duas quadrilhas que disputam o comércio de entorpecentes na região; uma liderada pelo grupo de Iterley Martins de Souza, o Magrelo, e a outra de Thiago César de Souza, o Thiago Topete. Ambos presos na Penitenciária Odenir Guimarães (POG), em Aparecida de Goiânia.
O setor se formou a partir de uma invasão, há cerca de 30 anos, e suas ruas estreitas e desordenadas são tranquilas durante o dia, admite uma moradora antiga do bairro. Mas à noite, o comércio de drogas toma as ruas e traz com ele a criminalidade. Ela conta que, por diversas vezes, já foi acordada por tiroteios nas ruas. Os moradores não temem os traficantes, relata outro morador, que são conhecidos da população e não os ameaçam, mas o ambiente que o tráfico de droga produz: rixa entre traficantes, usuários dispostos a roubar para comprar droga e pessoas drogadas. A população do Parque Anhanguera II vive atemorizada, mas não denuncia a ação dos traficantes porque teme a reação da quadrilha. A reportagem não conseguiu contato com o delegado Gilberto Ferro, do 20º DP.
Quebra Caixote
No Quebra Caixote e Morro do Macaco, invasões que ficam na Vila Bandeirante, o principal crime é o roubo, afirma o restaurador de pneu, Beto Pneu. Há também muitas bocas de fumo no local e o tráfico é praticado por jovens do bairro. “A maioria foi criada aqui e eles não ameaçam nem nada, mas não se pode mexer com eles”, conta Beto. As quadrilhas roubam principalmente veículos – não no próprio bairro, mas em outros setores - e levam o fruto do roubo para o bairro. Os moradores conhecem tantos os ladrões quanto os traficantes, mas não os denunciam à polícia e é essa conivência que garante a “segurança” da população, explica o morador.
Na opinião da comerciante Catarina Dias, que tem uma mercearia bem ao lado de uma viela na Vila Bandeirante onde se concentram as bocas de fumo, o perigo do tráfico de droga são as rixas entre as quadrilhas. “Porque a gente pode ser atingida por balas perdida”, conta. Apesar de estar bem ao lado dos pontos de comércio de droga, ela não se sente ameaçada. “Aqui ninguém mexe com ninguém”, conta. O que significa, por parte da população, não denunciar à polícia os crimes que têm conhecimento.
Não há denúncias na polícia contra os traficantes e ladrões que atuam no setor, afirma o delegado Washington da Conceição, do 9º DP. No 197, número da Polícia Civil que recebe denúncias anônimas, não há registros relacionados à Vila Bandeirante. Segundo ele, a ação da polícia depende da denúncia da população e previne que o crime tome conta do bairro. “Nós vamos lá com mandado de busca e apreensão e isso evita que os bandidos se consolidem no local.
Pedro Ludovico
A esquina da Rua Antônio Martins Borges, no Setor Pedro Ludovico, é o principal ponto de venda de drogas do bairro, conta uma adolescente moradora do bairro. Logo que as lojas se fecham, por volta das 19 horas, os traficantes já ocupam o local, afastando os moradores. “Durante o dia eles vendem nas bocas de fumo; à noite vêm para a rua”, relata um comerciante. A partir dessa hora, os moradores se recolhem em suas casas e ninguém entra nem sai do bairro, conta o comerciante. “Meus amigos não têm coragem de vir aqui de noite.”
O bairro, que é resultado de uma invasão, não registra um grande número de roubos, mas o tráfico tem aumentado as taxas de homicídio. O comercio de droga da região é comandado pela quadrilha de Marco Aurélio Ferreira Caetano, de 21 anos, conhecido como Sirigueijo, preso em junho deste ano. Só ele responde por quatro assassinatos ocorridos em abril em uma chacina que não poupou sequer um bebê de 1 ano e 8 meses. A polícia estima que pelo menos oito assassinatos cometidos este ano na região sejam consequência da disputa por território entre traficantes.
Há também muita violência decorrente de dívidas de drogas, conta o comerciante, e pequenos roubos praticados por usuários de droga. Os moradores conhecem os traficantes. “É gente que nasceu aqui”, afirma o aposentado Raimundo João da Silva. A quadrilha é formada por cerca de 12 jovens, estima, mas apesar de conhecê-los ninguém os denuncia para a polícia porque têm medo.
Vila Romana
Na Vila Romana a população também não denuncia os crimes praticados pelos moradores da região e vive acuada pelos ladrões que, segundo um morador, roubam de tudo, celulares, veículos e residências. “São pessoas daqui mesmo da região, mas ninguém denuncia porque tem medo de represálias”, diz. A falta de segurança no bairro obriga os pais a acompanharem os filhos na escola e as famílias a manterem alguém em casa dia e noite para evitar os furtos.
O bairro também convive com um “tráfico de drogas pesado”, afirma o morador. Os traficantes não ameaçam os moradores, mas as pessoas de fora que frequentam as bocas de fumo representam uma ameaça constante. Segundo o morador, a falta de segurança no local é “alarmante”, mas todos permanecem calados por medo. “São quadrilhas organizadas e é melhor ficar quieto e deixar pra lá porque eles sabem onde todo mundo mora e eu ainda quero criar meus filhos.”
O delegado Ricardo Pereira, do 19º DP, abriu procedimento para investigar a ação de traficantes na Vila Romana, mas, segundo ele, essa situação de constrangimento relatada pela população não chegou à delegacia que atende a região . “Por meio do 197 a população pode fazer a denúncia anônima, sem risco algum”, diz.
Fonte: O Popular