A Polícia Civil investiga sete mortes de ex-pacientes do Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh) para saber se têm relação com o suposto esquema de fraudes na prestação de contas da clínica ao Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) entre setembro de 2013 e setembro do ano passado. Além destes casos, pelo menos mais 10 novas denúncias chegaram ontem à Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH), feitas por familiares de ex-pacientes.
Na semana passada, a Operação Metástase apontou a existência de um conluio entre ex-diretores do Ipasgo e integrantes do Ingoh para manipular auditorias médicas a fim de encobrir irregularidades no serviço prestado de quimioterapia a usuários do plano de saúde. A polícia já conseguiu o bloqueio de R$ 50 milhões dos suspeitos, valor que teria sido identificado como desviado pelo grupo.
O titular da DIH, delegado Rilmo Braga, anunciou ontem a criação de uma força-tarefa específica para analisar os casos que chegarem à delegacia. O Grupo Especial de Combate à Corrupção (Geccor), responsável pela Operação Metástase, vai concluir uma das investigações, a morte de Alexandre Francisco de Abreu, por estar mais adiantado. O caso foi usado como argumentação para justificar pedidos de busca e apreensão autorizados na última quinta-feira.
Já os outros seis casos ficaram com a força-tarefa, que terá também a presença de peritos médicos para analisar a existência de indícios que justifiquem a abertura de inquérito policial. Coordenador da Operação Metástase, o delegado Luiz Gonzaga destaca que a existência da fraude não significa que todos os pacientes que passaram pelo Ingoh foram colocados em risco ou que todas as mortes são em decorrência de fraudes. “É preciso checar caso a caso”, reforça.
Dois dos seis casos que ficarão com a DIH já estariam com indícios suficientes para abertura de inquérito, conforme O POPULAR apurou. Um deles, o de Oseas da Silveira Camacho, teria como principal prova o uso de medicamento comprovadamente falsificado. O outro envolve um paciente que teria sido redirecionado pelo Ipasgo para o Ingoh dentro de um dos esquemas identificados.
Há também entre estes casos dois que, segundo Rilmo, foram comunicados por telefone por familiares, que se comprometeram a ir na DIH para se dar mais detalhes. “Todos os casos que chegarem aqui vamos analisar. Só hoje já ligaram 10 pessoas, mas precisam vir aqui e registrar”, comentou.
A polícia destaca que familiares de ex-pacientes do Ingoh que suspeitem de alguma irregularidade no tratamento deve se dirigir à DIH com o maior número de documentos e informações levantadas possíveis, como prontuários, caixas de medicamento, atestado de óbito e testemunhas.
Rilmo diz que será aberto um inquérito para cada morte que apresentar “um mínimo de fundamento” que aponte a existência de algum crime. “Qualquer indício mínimo de crime verificado, nós vamos abrir um inquérito.” Por se tratar de casos que envolvem perícia médica, o delegado acredita que serão investigações complexas, inclusive para confirmar a procedência das denúncias.
Auditoria
Portador de câncer de pulmão, Alexandre Franscisco de Abreu, segundo a polícia, morreu por uso inadequado de medicamento no Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh). Esta morte é a que o delegado Luiz Gonzaga, coordenador da Operação Metástase, diz estar mais fundamentada a relação com as fraudes detectadas na investigação.
Além do uso do remédio, a polícia aponta outra irregularidade: o tratamento foi auditado pelo médico Romeu Sussumu Kuabara, ex-diretor do Ipasgo que está entre os suspeitos de integrar o grupo responsável pela fraude, por autorizar as auditorias irregulares e pela criação do auditor-robô, conforme revelado na edição de segunda-feira pelo POPULAR.
Para Luiz Gonzada, as auditorias automáticas, sem a devida fiscalização, são tão graves quanto a possibilidade de fraudes na aplicação dos medicamentos. “Quando a auditoria é automática, não existe a fiscalização, não tem como perceber se o medicamento era ou não o adequado”, comentou.
Gonzaga diz não ter dúvidas de que o atuou durante cinco anos “de forma fraudulenta” junto com ex-diretores do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo). “Isto está claro na investigação.”
A reportagem não conseguiu localizar Romeu Kuabara na tarde de ontem para comentar as acusações.
Programa
Os supostos esquemas investigados pelo Grupo Especial de Combate à Corrupção (Geccor) tiveram início em setembro de 2013, quando o Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh) foi credenciado pelo Ipasgo dentro do edital 002 para integrar um programa do instituto que previa o fim da coparticipação de 30% no tratamento de quimioterapia para usuários do plano.
O programa durou 5 anos e neste período cerca de 70 mil pacientes passaram pelo Ingoh, que teria ficado com 80% do total de atendimentos.
Neste período, o Ipasgo bancava 85% do tratamento, enquanto as empresas credenciadas davam um desconto de mais 15%. Após o fim do programa, o Ipasgo passou a bancar 100%.
Imagem/Fonte: Jornal O Popular