O prefeito de Caldas Novas, Evandro Magal (PP), e outras oito pessoas foram presas ontem durante a deflagração da Operação Negociata, que investiga suposto esquema de fraudes em licitação, pagamentos de propina e lavagem de dinheiro na prefeitura do município a 167 km de Goiânia.
Além do chefe do Executivo municipal, também estariam envolvidos no esquema e tiveram mandados de prisão expedidos funcionários, ex-funcionários da prefeitura e empresários.
A ação é de Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Goiás (MP-GO), com o apoio do Centro de Inteligência do MP-GO e das polícias Civil (PC), Militar (PM) e Rodoviária Federal (PRF).
Segundo o MP-GO, existem indícios de que pessoas ligadas à prefeitura agiam para beneficiar certas empresas em processos licitatórios para prestação de serviços públicos. O esquema também envolveria o pagamento de propina e empresas de fachada usadas para lavagem de dinheiro.
Segundo informações do MP, há meses a prefeitura municipal de Caldas Novas está sob investigação e apurações de outros ilícitos teriam levado a esta operação que, desta vez, traria indícios mais robustos da atuação direta do prefeito nos supostos atos criminosos.
A defesa de Evandro Magal encaminhou posicionamento no qual afirma que o mandado de prisão foi “excessivo e abusivo, pois trata-se de uma investigação antiga, iniciada no ano de 2015, e que não houve mudança no quadro fático que pudesse gerar um decreto de prisão.” Além disso, a defesa garante que o prefeito sempre esteve disposto a prestar qualquer esclarecimento necessário, mas nunca foi intimado, e afirma que tomará as medidas cabíveis perante o Poder Judiciário.
Além das 9 prisões, foram cumpridos 32 mandados de busca e apreensão em Caldas Novas, Goiânia, Morrinhos, Itumbiara, Aruanã e Aparecida de Goiânia. Os mandados expedidos pela Justiça são de prisão temporária de até 5 dias. Os documentos e equipamentos eletrônicos recolhidos foram remetidos à sede do MP-GO em Goiânia.
Dentre os objetos encontrados durante as buscas ontem estão um revólver calibre 38, moeda nacional em espécie, cheques e documentos, além de cerca de U$ 120 mil, encontrados em uma casa em um condomínio fechado em Goiânia.
Prisões
Em Caldas Novas, os agentes efetuaram a prisão do ex-secretário Municipal de Saúde Luciano Filho; do ex-presidente do Fundo de Previdência de Caldas Novas (CaldasPrev) João Afonso Neto, da ex-pregoeira da prefeitura Rosane Rodrigues Rosa, e de Rony Lopes de Jesus, servidor municipal que trabalha cuidando das licitações, além do prefeito.
O prédio da prefeitura da cidade, a sede do Poupa Tempo e endereços ligados aos agentes públicos e empresários também foram alvo de buscas em Caldas Novas. Agentes recolheram documentos nas residências de Waldo Palmerston, um dos sócios do grupo Privê, e do vereador da cidade, Saulo Inácio (PSDB), conhecido como Saulo do Privê, que é funcionário do grupo há anos.
Em nota, o Privê respondeu que todos os documentos foram entregues e as solicitações exigidos pela investigação atendidas, e que o grupo e o empresário citado não têm qualquer vínculo com negócios ilícitos. O MP ainda não forneceu informações sobre qual seria o possível envolvimento dos dois no esquema.
Os presos de Caldas Novas chegaram à capital ontem e foram levados diretamente para o Instituto Médico Legal e, posteriormente, para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Os depoimentos deles serão tomados hoje, quando também o promotor Thiago Galindo, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO deverá conceder mais detalhes sobre o esquema apurado pela operação.
Depoimentos
Prestaram depoimento ontem duas das três pessoas que foram presas em Goiânia. A enfermeira Yara Bandeira Azevedo e o diretor da Secretaria de Administração de Caldas Novas, Marcos Patrício Alencar, foram levados para a sede do MP logo pela manhã, onde foram ouvidos.
O empresário José Junior, também de Goiânia, não foi encontrado pelos agentes na parte da manhã, quando a operação foi deflagrada, e chegou a ser considerado foragido, mas se entregou às autoridades na parte da tarde. Um último envolvido, Sandro Silva Guimarães, foi preso na cidade de Santa Vitória em Minas Gerais e também trazido para Goiânia.
Ao menos duas empresas foram alvos de buscas e apreensões na capital. Uma delas, identificada como Nacional Materiais Elétricos, localizada no Setor Esplanada dos Anicuns, na Região Norte, foi constatada como empresa de fachada.
A apuração que deu origem à atual investigação do MP-GO é a Operação Carnê da Alegria, que desarticulou um esquema de fraudes em licitações para a impressão do carnê de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) da Secretaria de Finanças da Prefeitura de Caldas Novas. À época, foi investigada a dispensa de licitação para contratação de empresa para impressão dos carnês e, logo em seguida, a abertura de processo licitatório para o mesmo serviço com um valor dez vezes maior. Com as novas provas apreendidas, a expectativa é de que este novo braço da investigação tenha ainda mais desdobramentos.
Fonte: O Popular