O Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo), plano de saúde que atende 627 mil usuários, fechou 2019 com superávit de R$ 65 milhões. Depois de escândalos sobre desvios de dinheiro e outras fraudes, houve ajuste das contas e crescimento positivo de 26% da receita no ano, com R$ 359,3 milhões a mais no caixa e queda de 12% nos gastos.
Porém, o atendimento ao usuário ainda é limitado por cotas e há dívidas a receber, entre outras dificuldades. Por isso, o presidente do Ipasgo, Silvio Fernandes, diz que será preciso realizar mais mudanças para ter sustentabilidade. “Talvez o desafio para 2020 seja readequar a rede e buscar melhores práticas nas áreas de auditoria e assistencial.”
Ele afirma que a revisão de contratos, adoção de melhores práticas com compliance, repasses do governo e o reajuste das mensalidades – de até 21,56% – formam conjunto de fatores responsáveis pelo resultado positivo de 2019. Em 2018, houve déficit de R$ 152,839 milhões e o ano seguinte iniciou com atrasos em pagamentos de prestadores de serviço credenciados, que ficaram sem receber por quase quatro meses.
Em janeiro de 2019, o órgão gastava por mês R$ 10,5 milhões a mais do que era arrecadado, conforme informa Fernandes. Por isso, ele afirma que foi preciso rever contratos, acordos, convênios e parcerias. No fim, ocorreu corte de R$ 50 milhões em despesas administrativas.
Só que a demora do governo estadual para realizar repasses contribuiu para dificultar a recuperação do caixa. Havia atrasos tanto das contribuições dos usuários do plano como de parcelas de dívidas acumuladas desde 2002, o que inclui valores referentes aos serviços assistenciais prestados a vítimas do Césio 137 e ao Programa de Apoio Social (PAS).
Esses atrasos foram negociados pela gestão atual e parcelas passaram a ser pagas regularmente no exercício de 2019. Mas dívidas com relação ao PAS, ao serviço assistencial e até aos gastos referentes a aposentados antes da emenda Constitucional de 19/1997, que foram deixadas por governos anteriores, ainda estão em negociação com o Tesouro Estadual. O passivo chega a R$ 183,4 milhões, segundo o órgão.
Desperdícios
As operações policiais Mofina e Metástase, que investigam fraudes no Ipasgo, levaram à adoção de ferramentas de controle e gestão de risco que podem ajudar a favorecer as contas do instituto. Foi encontrado, por exemplo, um caso de dois mil hemogramas feitos somente em um paciente.
“Precisamos melhorar muito na parte de auditoria, rever todos os processos e buscar melhora da qualidade da rede para entregar o serviço de qualidade e para quem tem de ser entregue”, pontua.
Para o fim deste primeiro semestre, o presidente do instituto afirma que será possível ter protocolos para reavaliar a rede credenciada. O que, de acordo com ele, ajudará a diminuir desperdícios e reduzir em torno de 15% as despesas assistenciais.
“O que eu não posso é ficar com mau uso da rede não só pelo prestador como pelo usuário. Mas o que precisa ser feito estamos fazendo”, afirma ao citar expansão para o Entorno do Distrito Federal, para região Norte e serviço próprio de saúde mental em Aparecida de Goiânia. “Estamos fazendo as coisas paulatinamente, buscando sustentabilidade. O recurso que temos tem de ser otimizado para entregar mais qualidade ao usuário.”
Outro lado
Apesar do equilíbrio financeiro, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público de Goiás (Sindipúblico), Nylo Sérgio José Nogueira Junior, pontua que ainda há várias queixas referentes ao plano. “Alguns servidores ainda encontram dificuldade para conseguir consultas médicas em hospitais e clínicas. Mas nós esperamos que aumente o numero de credenciados”, diz.
Sobre as cotas e a dificuldade para conseguir atendimento, o presidente do Ipasgo afirmou para a reportagem que reconhece que é uma medida que “penaliza a pessoa que precisa na hora em que ela precisa”. A intenção seria acabar com essa limitação ainda este ano. “Se o usuário precisa e tem o pré-requisito, ele tem de ter acesso o mais rápido.”
Entretanto, Silvio Fernandes alerta que ainda é preciso manter esse mecanismo até que se crie uma metodologia para que somente “quem precise” realize o procedimento. Sendo assim, apesar da intenção de acabar com a prática que limita o número de procedimentos, os usuários ainda devem ter de conviver com ela por mais um tempo.
Em debate
O Sindipúblico também defende revisão de outras ações do Ipasgo. “Queremos debater a nova licitação para auditoria que pode custar R$ 200 milhões, porque somos contrários”, defende Nylo Sérgio. Com abertura prevista para 11 de fevereiro, há licitação para contratação de serviços de apoio operacional à autogestão com valor estimado em R$ 174,645 milhões.
“Queremos servidores efetivos e não terceirizados no Ipasgo com contratos milionários.” Outra cobrança do representante é o funcionamento do Hospital do Servidor Fernando Cunha Júnior, que foi uma obra iniciada no governo de Marconi Perillo (PSDB) e entregue recentemente, após seis meses de paralisação. O governo estadual cancelou a compra de equipamentos para a unidade, o que vai ser cotado novamente.
Evolução nas contas
Veja o como estão contas do Ipasgo após ano de déficit:
Saldo
2018
Déficit de R$ 152,839 milhões
2019
Superávit de R$ 65,040 milhões
Evolução da receita
2018
R$ 1,398 bilhão
2019
R$ 1,757 bilhão
Despesas assistenciais
2018
R$ 1,376 bilhão
2019
R$ 1,539 bilhão
Despesas operacionais (administrativas)
2018
R$ 174,864 milhão
2019
R$ 153,545 milhão
Despesas totais
2018
R$ 1,551 bilhão
2019
R$ 1,692 bilhão
Fonte: Ipasgo
Matéria Publicada no Jornal O Popular
Foto: André Costa
Link: https://www.opopular.com.br/noticias/economia/ipasgo-alcan%C3%A7a-super%C3%A1vit-ap%C3%B3s-ajustes-1.1971054