Conselheiro econômico da campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro, Paulo Guedes tem perfil liberal e defende a menor participação possível do Estado na economia. O ex-professor, fundador de centro de estudo econômico, de banco e portfólios de investimentos, sempre foi um ativo promotor da abertura econômica.
O economista de 69 anos é favorável à privatização de estatais, considera imprescindível uma reforma no modelo previdenciário e defende a redução de impostos e simplificação da estrutura fiscal. Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro antecipou que ele será o futuro ministro da Economia.
Paulo Guedes é o homem a quem Bolsonaro espera entregar a difícil tarefa de tirar o Brasil de dois anos de recessões e outros dois de baixo crescimento.
Entre seus desafios está diminuir o déficit fiscal e reverter a trajetória de crescimento da dívida pública, que passou de 58% do PIB em 2013 para 77,3% do PIB atualmente, e que, sem reformas, poderia chegar a 140% em 2030, segundo o Banco Mundial.
Nascido no Rio de Janeiro, Guedes se formou em economia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e fez mestrado e doutorado na Universidade de Chicago (EUA), escola ligada ao pensamento liberal econômico.
Guedes traz uma receita de seu manual de Chicago debaixo do braço: “Reduzir a dívida pública em 20% mediante privatizações, concessões” e a venda de propriedades estatais.
Atuação no mercado financeiro e na educação
O economista, que nunca ocupou cargo político nem fez parte de nenhuma equipe econômica de governo, fez fama e fortuna no mercado financeiro.
Ele foi um dos fundadores do Banco Pactual, atual BTG Pactual, onde atuou como chefe executivo e chefe estrategista, e também sócio majoritário do grupo BR Investimentos, incorporado com a criação da Bozano Investimentos, da qual ele é presidente.
Em seu site, a Bozano é descrita como uma empresa independente de investimentos alternativos com aproximadamente R$ 2,7 bilhões sob gestão, distribuídos entre plataformas de private equity (investimentos em empresas com potencial de crescimento) e asset management (gestão de recursos de terceiros).
Paulo Guedes também é um dos fundadores do Instituto Millenium, entidade sem fins lucrativos que defende o Estado de Direito, liberdades individuais, responsabilidade individual, meritocracia, propriedade privada, democracia representativa, transparência, eficiência e igualdade perante a lei.
Já foi sócio majoritário do Ibmec, onde fundou o primeiro curso de MBA em finanças do país, e atuou no mundo acadêmico como professor de macroeconomia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
Ele chegou a dar aula ainda na Universidade do Chile, durante o governo de Augusto Pinochet, nos anos 1980, mas voltou para o Brasil após ter sua sala revistada e depois de um forte terremoto.
Guedes também foi dos conselhos de administração de algumas empresas, como a locadora de veículos Localiza, a incorporadora PDG Realty e a HSM e Gaec, da área de educação.
O guru econômico de Bolsonaro ajudou na coordenação do programa de governo do então candidato à Presidência da República Guilherme Afif Domingos (PL), nas eleições de 1989.
Guedes se aproximou da campanha de Bolsonaro depois que o apresentador Luciano Huck desistiu de uma possível candidatura.
Durante a campanha, Paulo Guedes ficou conhecido como “Posto Ipiranga” – referência a um comercial de TV da rede de postos de combustível no qual um personagem dava a mesma resposta a todas as indagações que recebia: “Pergunta no posto Ipiranga”.
Em entrevistas, Bolsonaro afirmou que não entende de economia e que sempre que precisa tratar do assunto procura o “Posto Ipiranga”, em referência a Guedes.
Divergências
Mas no período que antecedeu a eleição, Bolsonaro chegou a contestar propostas apresentadas pelo economista, como a privatização de todas as estatais.
Sobre as estatais, Bolsonaro afirmou em entrevistas ser a favor da privatização de empresas que deem prejuízo, mas disse que o setor de geração de energia elétrica será exceção, assim como o “miolo” da Petrobras.
Outra polêmica durante a campanha foi a fala em que Paulo Guedes teria sugerido a recriação da CPMF, imposto que incide sobre movimentação financeira.
A recriação do imposto foi negada por Bolsonaro e, em seguida, o então candidato relatou que o próprio Guedes afirmou que ter se tratado de um “ato falho”.
O economista explicou que a proposta é unificar quatro, cinco ou seis impostos e criar um imposto único federal.
Investigação
Em plena campanha eleitoral, Paulo Guedes também se tornou alvo de investigações do Ministério Público Federal que apuram possíveis “crimes de gestão temerária ou fraudulenta de investimentos advindos de fundos de pensão”.
Segundo o Ministério Público, fundos de pensão de estatais aplicaram em dois fundos de investimento administrados por uma empresa de Paulo Guedes e perderam R$ 200 milhões. Guedes foi chamado para prestar depoimento em 6 de novembro.
A defesa de Paulo Guedes divulgou nota na qual afirma que a investigação se baseia em um relatório “fragilíssimo”, que tratou de apenas um, dentre quatro investimentos realizados pelo fundo.
Segundo a nota, esse relatório omite o lucro “considerável” que o fundo tem propiciado aos investidores, com perspectiva de ganhos de mais de 50% do valor investido.
Outra investigação preliminar do MPF se refere a dois fundos de investimentos criados por Paulo Guedes, com a promessa de receber R$ 1 bilhão de sete fundos de pensão, a partir de 2009. A investigação não aponta quanto deste dinheiro foi, de fato, investido. Essa denúncia envolve empresa da área de educação controlada por Guedes.
A defesa de Paulo Guedes declarou que causa “perplexidade” que, às vésperas da eleição presidencial, tenha sido instaurado um procedimento para apurar fatos de um relatório “manifestamente mentiroso”.
Fonte: G1 Goiás