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João de Deus é transferido para prisão domiciliar

A Justiça em Goiás concedeu prisão domiciliar para o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, de 78 anos, que está preso há mais de um ano no Núcleo de Custódio do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. A decisão é da última quinta-feira (26) e impõe a João diversas medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica, entrega do passaporte, proibição de frequentar Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, e de manter contato com vítimas e testemunhas.

Para o transporte de João, que está doente, foi montado um esquema de segurança privado e de acordo com a defesa do médium já foi solicitado para o plano de saúde dele um serviço de home care. “Ele precisa de um serviço médico praticamente o dia todo quando chegar em casa”, enfatiza um dos advogados de defesa do médium, Anderson Van Gualberto Mendonça. Segundo ele, o local não vai ser divulgado por questão de segurança. “Pode ser em três cidades: Goiânia, Abadiânia ou Anápolis”, esclarece.

O estado de saúde de João de Deus é o principal motivo para o requerimento da prisão domiciliar. “Ele não estava recebendo a assistência adequada e tem vários problemas de saúde crônicos que se agravaram dentro da cadeia”, diz Mendonça. No dia 12 deste mês ele foi encaminhado para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) com queixas de dores abdominais e torácicas. O advogado diz ainda que o pedido para a transferência foi feito antes da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). “Ela não foi o motivo, mas foi um catalisador pelo fato de ele estar duplamente no grupo de risco: é idoso e muito doente”, afirma.

Em nota, a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informou que até no final da tarde desta terça-feira (30) não havia sido notificada oficialmente sobre a decisão judicial. A defesa de João espera que no máximo em 48 horas ele seja encaminhado para casa. Em janeiro, João foi condenado a 40 anos de prisão pelo crime de estupro de vulnerável contra cinco pessoas. Foram proferidas três sentenças de um total de 13, segundo o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). O total das penas aplicadas nos três processos chega a mais de 63 anos.

Temor

K.F.B., de 46 anos, que acusa o médium de tê-la violentado há 28 anos, diz que teme uma possível retaliação por parte do médium a partir do momento que ele chegar em casa. “Tenho medo porque ele me conhece e a minha família também”, afirma. De acordo com ela, só o fato de saber que João não está na cadeia a deixa atormentada. “Sempre tive pânico dele. A lembrança da imagem, do cheiro e até do hálito me fazem mal”, relata.

Segundo ela, a prisão domiciliar não foi uma surpresa. “É lamentável, mas não é inacreditável. Ele é um homem muito poderoso. Porém, acho muito injusto. Ele destruiu minha vida. Gostaria que ele tivesse muita saúde, para viver bastante e pagar pelo que ele fez comigo e com outras mulheres dentro da cadeia”, enfatiza a vítima.

A estilista Ana Paula São Tiago, de 38 anos, que o acusa de abuso sexual em 2006, diz que mesmo morando no Rio de Janeiro não deixa de se sentir ameaçada. “Não posso ignorar que ele é um homem importantíssimo e com influência.”

Ana Paula afirma que acredita que a prisão domiciliar também representa o cumprimento da justiça, mas teme que vítimas se calem por causa da situação. “Para essas mulheres quero deixar um recado: não se sintam frustradas nem desanimadas. Continuem procurando o MP e não se deixem ser ameaçadas e intimidadas. Não podemos ter medo e temos que lembrar que o João de Deus não é de Deus. A máscara dele caiu. O todo poderoso caiu. Aquele homem que era endeusado não passa de um estuprador.”

Ministério Público quer que médium volte para a cadeia

O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) afirmou que irá recorrer da decisão da Justiça que concedeu a prisão domiciliar para o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, nesta terça-feira (30).
O promotor que coordena a força tarefa do MP-GO que cuida do caso, Luciano Miranda, diz que o órgão ainda não foi intimado, mas que vai recorrer da decisão pois o réu se trata de um condenado em primeiro grau, com penas que somam mais de 60 anos de prisão. “Vamos tomar todas as providências pertinentes para buscar a revisão dessa decisão por meio do recurso adequado.”

Segundo Miranda, além das ações penais por crimes sexuais, o médium responde formalmente pelo delito de coação de testemunha no curso do processo, o que demonstra que existe a possibilidade de que fora do cárcere ele possa voltar a entrar em contato com vítimas e atrapalhar tanto a investigação do caso, quanto a continuidade dos processos.

O promotor reforça o temor que as vítimas sentem de serem procuradas, ameaçadas ou coagidas pelo fato de ele estar fora de uma unidade prisional. “Pensamos nisso porque um dos fatores que nos levou a pedir a prisão preventiva dele no passado foi justamente os relatos de vítimas que informaram ter se sentido ameaçadas por ele”, justifica.

Foto: Wildes Barbosa

Fonte: Jornal O Popular



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