O governo federal quer mapear e levantar informações sobre uso de droga em Goiânia a partir de análise do esgoto, coletando material contido na urina e fezes. O projeto se chama Cloacina e será implementado também nas outras quatro cidades do programa “Em Frente, Brasil” – Ananindeua (PA), Cariacica (ES), Paulista (PE) e São José dos Pinhais (PR) -, além do Distrito Federal. A pesquisa será realizada pelo Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), que desenvolve o projeto há 10 anos em Brasília junto com a Polícia Federal.
O investimento previsto é de R$ 10 milhões, e a intenção é que tenha início no primeiro semestre deste ano. A ideia, segundo o Ministério da Justiça (MJ), é expandir o trabalho para até 18 cidades, que ainda estão em definição, em quatro anos. A análise se trata de uma das ações da segunda fase do programa “Em frente, Brasil”, que teve início no dia 30 de agosto do ano passado. Em Goiânia, foi focado nas regiões Oeste e Noroeste. A intenção é que o trabalho voltado a drogas se mantenha nessas áreas, podendo expandir para outras regiões da capital.
Além da análise de esgoto, o trabalho a ser feito por pesquisadores da UnB também envolve um serviço de perícia com relação às drogas apreendidas pelas polícias durante os períodos de coleta de amostras como forma de identificar o perfil químico das drogas, o nível de adulteração das substâncias e eventualmente novas drogas sintéticas.
Coordenador do projeto, o professor do Instituto de Química da UnB Fernando Fabriz Sodré explica que a ideia do governo federal é conhecer a realidade do uso de droga e observar se as ações de redução de oferta têm impacto no consumo. “É como se a gente fosse monitorar se de fato as ações estão sendo efetivas ou não”, disse.
A pesquisa irá mapear os tipos de droga mais consumidas e ver o padrão de uso: qual região consome mais determinada substância, horários e dias com maior pico de consumo; se a droga foi usada ou descartada e até informações sobre a origem da droga. O MJ afirma que isso “otimiza o trabalho das organizações de segurança pública em ações e políticas de prevenção e de combate às drogas”.
O trabalho da UnB consiste em coletar amostras brutas do esgoto, sem ter passado por nenhuma fase do tratamento, e analisar. Sodré explica que ao ser consumida, a droga fica internalizada e sofre transformações, que saem nas fezes e principalmente na urina. “Se a gente analisar o esgoto, que reúne urina e fezes, a gente consegue rastrear níveis de concentração dos subprodutos do uso com eficiência elevada ”, afirmou. Segundo o professor, o processo é 100% eficiente – ou seja, não há risco de confundir uma substância com cocaína, por exemplo.
O Plano Municipal de Saneamento Básico de Goiânia aponta que há coleta de esgoto em 80% da capital. Questionado sobre como se dará a pesquisa em locais onde a rede de esgoto ainda não chegou, Sodré explicou que mesmo que determinada localidade não colete e trate 100% do esgoto, vai ser possível ter um retrato da realidade. Segundo ele, a análise de esgoto subsidia muitos relatórios relevantes sobre o uso de droga na Europa.
Coordenador da Força Tarefa do programa do governo federal em Goiânia, coronel Aylon José de Oliveira Júnior cita que o objetivo do projeto é combater o tráfico, “que é o que fomenta o crime”, mas também elaborar ações sociais e de saúde mental, por exemplo. “O consumo é um problema de Saúde”, disse.
Trabalho é 2ª fase de programa
A análise do esgoto em Goiânia para observar o consumo de droga na cidade faz parte das ações da segunda fase do programa do governo federal “Em Frente, Brasil”. A primeira fase teve como foco o combate à violência, especialmente crimes de homicídio, tendo inclusive a presença da Força Nacional de Segurança Pública nas regiões Noroeste e Oeste da capital.
A segunda fase do programa, conforme o coordenador da Força Tarefa em Goiânia, coronel Aylon José de Oliveira Júnior, tem como foco ações sociais, com desenvolvimento de projetos, por exemplo, na área da Saúde, Educação e Cidadania. “É o diferencial do programa, porque não está tratando segurança pública só como caso de polícia. Ela é resultado de um fator social”, disse. De acordo com ele, o trabalho de policiamento ostensivo nas ruas continuará.
Na última quarta-feira (22), integrantes do governo federal se reuniram com representantes dos governo de Goiás e da Prefeitura de Goiânia para discutir esta nova fase. Conforme o secretário municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), Henrique Alves Luiz Pereira, ficou estabelecido que entre os dias 12 e 14 de fevereiro haverá em Goiânia oficinas para discutir diagnósticos e estabelecer as ações a serem implementadas, em cada área, junto com a sociedade civil organizada.
Nesta reunião, de acordo com o secretário, será elaborado o plano local de segurança, com o estabelecimento de necessidades nas regiões Oeste e Noroeste. Os diagnósticos já foram elaborados pelo Instituto Federal de Goiás (IFG) em conjunto com a Seplanh, segundo Henrique.
O coronel Aylon afirmou que o projeto piloto do programa do governo federal prevê a inclusão de ações em áreas sociais. De acordo com ele, a intenção é que cada órgão dos governos indique profissionais com amplo conhecimento na área para coordenar as várias frentes. “A gente sempre tratavasegurança pública como problema de polícia, e não é. A polícia é o remédio, a gente está procurando a vacina”. E completou: “A vacina está na área social, porque se o social falha, aí vira caso de polícia”.
Fonte/foto: Jornal O Popular