Estávamos de plantão na Supervisão do CIAE (Centro Integrado de Atendimento às Emergências), numa linda terça-feira. O mês era agosto. O ano 2011. Todos os componentes compareceram ao local de serviço, as centrais de flagrante funcionando normalmente.
Nossos ânimos tranquilos, sempre torcendo para que a cidade fosse tranquila. Maior preocupação somente com as centrais e as fugas de preso.
Entretanto, como diabo ronda ao redor da terra, este teve que aparecer no CIAE, trazendo um forte poder explosivo, através de um sargento da polícia militar.
O moço, forte, robusto, aparência atlética, feliz da vida, chegou à sala da coordenação, cumprimentou o capitão com continência e aos demais colegas, com um sorriso de um lado ao outro da face. Havia feito uma grande descoberta e então levou a descoberta ao seu superior. Estava numa caixa, como se fosse um presente e despertou a curiosidade de todos: de inveja ou de cobiça. Poderia ganhar um elogio por isto, não é mesmo?
Entregou a caixa ao capitão, este também contente por estar recebendo um presente e ao abrir a caixa quase caiu desfalecido no chão com o que vira. Convenhamos, ainda bem que não caiu. Sorte nossa.
Todos ficaram mais curiosos ainda. Foi quando então o capitão perguntou se o sargento o queria matar. Sem entender o que ocorria com seu chefe, o sargento disse negativamente, ao que então o capitão gritou que ele lhe trouxera uma bomba.
Nesse momento nunca vi tanta gente correndo apavorada, parecia uma tourada em disparada, policiais militares e bombeiros saíram às carreiras do prédio do CIAE, deixando o capitão sozinho, pois nessa hora, até o sargento que conduzira a bomba, evadira do local. Seria medo de punição?
O capitão deixou a bomba no canto da sala e também fugiu, chamando o grupo anti-bombas. Nesse instante ia passando o Oscalino, nosso colega da polícia civil no CIAE, que também fugiu do local.
Depois de duas horas, com remorso por saber que na sala da Supervisão, ali no CIAE, ainda se encontrava o delegado supervisor Romário, e toda a equipe, deixou a covardia e mansamente entrou na sala. Antes, porém, tomou água, certamente para que ficasse calmo, e falou-nos para que evadíssemos dali o mais rápido possível que prédio iria explodir. Seria um novo 11 de setembro?
A disparada foi enorme. A porta ficou pequena para tanta gente ao mesmo tempo. Nem mesmo no teste de corrida do concurso da polícia civil houvera tamanha explosão com gente correndo tão rápido. Entretanto, um nobre colega teve a calma de deixar a supervisão após inspecionar se tudo estava bem ali.
Que bem que nada, poderíamos explodir naquele lugar, perna pra que te quero. Eu fui parar no meio da rua, onde também estava o médico, e toda a equipe de bombeiros.
Enquanto isto, um corajoso policial se vestia de “astronauta” para pegar a bomba que se encontrava na mesa do capitão, dentro da coordenação do CIAE.
Com o artefato em mãos, procurou um local seguro para fazer a detonação. Onde? Ali mesmo no pátio da SSP.
Um policial civil entrou no carro e saiu apressadamente. Viver é melhor, é claro.
Dizem que curiosidade mata. Curiosos também chegavam perto do “astronauta”. Ele estava protegido? E os curiosos? A verdade é que nossa curiosidade é maior que nosso medo de morrer.
Gosto de ser polícia, mas nessa hora, eu gostaria de ser uma pessoa normal. Enfrentar bandido é mais fácil do que enfrentar uma bomba. Não fui treinada para isto.
O “astronauta” se escondeu atrás das árvores, após esticar um grande fio branco para detonar a bomba e todos que se encontravam nas imediações deitaram no chão, com medo do que poderia acontecer.
De repente veio uma grande explosão. Eu me belisquei para saber se ainda estava viva. E vi pessoas passando, não sabia eu se eram desse mundo, mas se já estava no paraíso.
Ouvi um grito, tudo ocorreu bem. Um colega disse-me que poderia voltar. Tudo estava acabado. Tudo o que? O mundo? Felizmente, uh, que alívio. Estávamos vivos.
A bomba causou um reboliço e descobrimos que não somos imunes ao perigo. Devemos estar sempre preparados.
A crônica narrada é verídica. Quanto ao sargentão deve ter pegado alguns dias de punição, transferido para uma cidade bem distante da capital ou então mandado fazer o curso no Esquadrão Anti-bomba da Polícia Militar para apreender o ofício.
(In) felizmente não trabalho mais ali.
Autora: Grimailza Gomes Valverde Nascimento - Escrivã de Polícia de classe especial