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UNIÃO GOIANA DOS POLICIAIS CIVIS

Abusos deixaram marcas nas vítimas

Em 27 entrevistas concedidas à imprensa de todo País, mulheres que afirmam terem sido abusadas pelo médium João de Deus, na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (90 km de Goiânia), relatam traumas e dificuldade em lidar com o assunto até hoje. Entre elas houve casos de tentativa de suicídio, traumas profundos, prejuízos à vida emocional e sexual. Algumas mulheres sofrem há mais de 20 anos. Até agora, 330 mulheres já procuraram o Ministério Público de Goiás (MP-GO).

Uma das supostas vítimas teria cometido suicídio na quarta-feira, segundo a ativista social Sabrina Bittencourt, que recebeu as primeiras denúncias contra o médium. O MP-GO diz que ainda não há informações sobre esse caso.

Uma paranaense de 24 anos relatou que tentou suicídio depois ser abusada pelo médium João de Deus, quando tinha 13 anos. Ela contou para o site G1 que foi para a Casa Dom Inácio de Loyola por um quadro depressivo. “Quando voltei, estava muito pior. Tentei me matar, passei por coisas difíceis depois. Ele escolhe a vítima. Eu estava fragilizada, fiquei sem reação.”

A comerciante Ana Maria Azevedo, de 43 anos, disse em entrevista à TV Globo que tinha 16 anos quando foi trabalhar na Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus faz os atendimentos em Abadiânia. Ele conta que chegou a engravidar do médium João de Deus, mas recebeu uma “garrafada”. O remédio na verdade um abortivo, segundo a vítima. “Ele falou que ia me matar se eu falasse alguma coisa”, relata.

Entre as histórias que mostram as marcas do trauma está a de uma analista de sistemas de Brasília, que relatou ter sido abusada em 1995, quando tinha 22 anos. Entre os problemas para os quais buscava solução, estava o relacionamento com o namorado. João de Deus, então, teria dito a ela que precisava realizar “um trabalho” para resolver a situação, mas acabou sofrendo o abuso. Desde então, ela se sente culpada e sua vida sexual nunca mais foi a mesma.

Uma moradora de São Paulo, de 46 anos, também relata traumas desde os abusos. Ela contou que procurou a casa em 2014, em busca de ajuda para curar a mãe que tinha uma doença degenerativa. Ela diz ter demorado a perceber que isso a afetava de maneira profunda nos relacionamentos. Depois dos abusos, ela se separou e está sozinha.

A promotora Valéria Scarance, coordenadora do Núcleo de gênero do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), diz que cerca de 60 mulheres procuraram o órgão no Estado paulista para contribuir com a investigação. “Todos os relatos têm sido muito marcantes. São pessoas que até hoje carregam as consequências em suas vidas, têm traumas. Algumas não conseguem ficar sozinhas no mesmo ambiente com homens.”

Valéria dá um recado para mulheres que passaram por situação de abuso sexual: “Falar também cura. A dor não vai desaparecer, mas o sentimento de Justiça conforta”.

Perfil

De acordo com Valéria, os promotores que estão atuando no caso trabalham para traçar um perfil das vítimas, mas o que pode ser dito até agora é que são pessoas vulneráveis, em situação de dor e tristeza, além de confusão emocional.

Elas relatam que o médium justificava o ato sexual como um processo de cura. Segundo a promotora, na época elas tiveram medo de retaliação espiritual ou perdesse o “avanço” nos tratamentos de saúde.

“Quando as mulheres demonstravam inconformismo ou questionavam os atos do investigado, o procedimento padrão dele era demonstrar poder, dizer que conhecia pessoas importantes e as vítimas se sentiam ainda mais impotentes”, disse a promotora.

Apesar de manifestação, há cobrança de explicações 

Fiéis e voluntários da Casa Dom Inácio de Loyola fizeram nesta quinta-feira (13) um pequeno protesto na porta do local, na Avenida Frontal, em Abadiânia, a 90 quilômetros de Goiânia. Eles caminharam em oração por cerca de 500 metros e retornaram para ao local. Apesar da manifestação em apoio ao médium João de Deus, na cidade, ainda que do lado esquerdo da rodovia, onde praticamente todo comércio (incluindo pousadas e casas de massagem) funciona em prol da Casa, foi possível ouvir comentários de que a instituição precisava se posicionar, senão tudo que existe no entorno acabaria.

Auxiliar direto de João de Deus, Chico Lobo garante que não foi ele quem organizou a manifestação. A frequentadora Taís Pruja, de 27 anos, disse que a manifestação foi organizada pelas pessoas da cidade, fiéis e comerciantes. “Pedimos que a Casa não seja fechada e que o médium seja julgado pela justiça, e não pela imprensa”, disse.

Clima

Uma fiel que veio de Petrópolis contou que estava extremamente decepcionada, e que desejava não ter vindo. “Não volto nunca mais”, disse. Ela conta que só se deslocou para Abadiânia com a nora, que é quem busca uma cura, porque as despesas já estavam todas pagas. As denúncias, no entanto, abalaram sua crença. “E quem não deve, não teme. Por quê ele não está aqui?”, questionou.

Festa

A tradicional festa de Natal para crianças realizada por João de Deus, marcada para o próximo sábado (15), irá acontecer, mas sem a presença do médium. A informação foi confirmada por Chico Lobo. Ele disse ao POPULAR que a Casa Dom Inácio distribui cerca de 10 mil brinquedos todos os anos e João de Deus se veste de Papai Noel. Após as denúncias de assédio sexual, no entanto, houve a decisão para que o médium não comparecesse na festa. Os relatos foram divulgados inicialmente na última sexta-feira no programa ‘Conversa com Bial’, da Rede Globo.

A Casa poderá ser fechada para recesso a partir do próximo dia 15, conforme informações do auxiliar do médium. Recessos parecidos já aconteceram alguns anos, mas não são recorrentes. Segundo o auxiliar, é preciso aguardar o desenrolar da Justiça para ter certeza se haverá paralisação dos trabalhos da Casa ou não. (Sarah Teófilo enviada a Abadiânia).

Fonte: O Popular



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