O policial civil que interveio e conseguiu impedir o personal trainer Murilo Morais de continuar espancando a namorada, uma veterinária de 33 anos, disse que “nunca tinha visto nada tão brutal”, mesmo presenciando vários casos graves de violência em sua profissão. Uma câmera de segurança registrou quando o homem dá socos, chutes e bate a cabeça da vítima várias vezes contra o chão.
O G1 tenta contato, por telefone, com a defesa de Murilo Morais, também de 33 anos. Desde o dia da agressão, ele está detido.
O caso aconteceu em 28 de agosto, em Goiânia. O policial, de 35 anos, que prefere não ser identificado, é quem aparece nas imagens apontando uma arma contra o agressor. Ele conseguiu prender o personal trainer.
De acordo com o policial, ele estava parado na porta do condomínio próximo à praça em que o crime aconteceu, pois a filha dele mora no prédio. “Tinha um carro na minha frente com um casal de idosos e eu vi quando o senhor saiu e começou a gritar: ‘Não faz isso com ela não, não faz não’”, lembrou.
O policial disse que a reação dele foi imediata. “Eu saí do carro rapidamente. Fui lá ver, e o cara estava dando socos no rosto dela. Eu comecei a verbalizar de longe, pedindo para ele parar que eu era polícia, mas ele não parava”, contou.
As imagens gravadas pela câmera mostram que Murilo se afastou da namorada. Segundo o policial, foi neste momento que o personal foi para cima dele. O temor do agente era que Murilo tomasse a sua arma. “Eu fiquei cercando ele, nem deixando chegar perto da menina nem chegar perto de mim, e ele dar um bote e tomar a minha arma, porque ele é muito forte. Se pega a minha arma ali, ele podia matar a mim e a ela”, contou.
Tiro para o alto
O destemor do personal foi outra coisa que chamou a atenção do policial. “Não era normal o jeito que ele estava. Ele não estava com medo, eu apontava a arma a todo tempo, e, mesmo assim, ele vinha para cima de mim, tive que dar um disparo para o alto. Depois do disparo, ele parou de se aproximar de mim”, comentou.
O disparo para o alto foi, para o policial, uma medida para evitar algo mais extremo. “Eu fiz isso para evitar atirar diretamente nele, para advertir. Mesmo assim, ele voltou na menina, falou alguma coisa e saiu correndo. Aí fui correndo atrás dele para fazer um acompanhamento. A gente correu ali quase meio quarteirão, até ele cansar e uma pessoa ajudar a rendê-lo. A Polícia Militar chegou e fez a prisão. Ele não falou nada”, lembrou.
‘Impossível não se meter’
Mesmo com a própria vítima dizendo que acredita que seria morta se o policial não tivesse aparecido, ele não se considera um herói. “Eu fiz o que todo cidadão de bem faria, eu estava em vantagem porque eu estava com uma arma, mas, mesmo assim, qualquer cidadão de bem tentaria intervir, gritar, chamar a polícia. Aquela cena ali era impossível de não se meter”, comentou.
Policial há dois e trabalhando em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana, ele falou de como se espantou com a agressão. “Foi muito pesado mesmo, chutava muito o rosto dela, pegava distância e chutava o rosto dela com bastante brutalidade. Ela teve o braço fraturado em vários lugares. Ela ficou bem machucada”, relatou o escrivão.
Em entrevista ao G1, a vítima disse que só ficou viva pela “graça de Deus” e falou da importância do policial ter aparecido. Após ficar alguns dias hospitalizada, ela já está em casa, mas segue em tratamento.
“Ele batia só na minha cabeça. Foi chute, murro. Tive uma fratura completa no rádio e ulna [ossos do antebraço]. Iniciei minha fisioterapia, estou sem movimento do meu braço esquerdo. Tive um corte no supercílio, teve que dar ponto. Graças a Deus, eu não tive nenhuma lesão na cabeça mais grave, mas foi muito violento”, disse a veterinária.
O policial nunca mais esteve com a vítima, mas torce por ela. “Eu desejo para ela melhoras e que ela supere esse trauma”, falou.
Liberdade negada
Murilo foi preso logo após as agressões. Na delegacia, ficou em silêncio. O juiz Jesseir Coelho de Alcântara, que havia mantido a prisão após audiência de custódia, negou na terça-feira (17) um pedido de liberdade feito pela defesa do personal. Segundo ele, a soltura “constitui perigo à sociedade e à própria vítima”. Ele já tinha passagem por ameaça e injúria contra outra mulher.
Foto: Reprodução/TV Anhanguera
Fonte: G1 Goiás
Link: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2019/09/19/policial-que-defendeu-veterinaria-das-agressoes-de-personal-trainer-diz-que-se-espantou-com-a-brutalidade.ghtml