A Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) ouviu ontem os quatro socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que realizaram o atendimento aos irmãos Kalebe de Paula Araújo, de 19 anos, e Victor de Paula Araújo, de 21 anos, mortos nesta segunda-feira (6) dentro de casa no Setor Maysa II, em Trindade, depois de uma ação policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Mais duas testemunhas também foram ouvidas nesta quarta-feira.
O delegado responsável pela investigação, Douglas Pedrosa, diz que os depoimentos foram esclarecedores e serão valiosos caso haja uma reconstituição do local onde os jovens receberam os disparos. “Conseguimos descobrir a posição em que os corpos estavam quando o socorro chegou. Futuramente isso pode ajudar em uma reconstituição.”
Segundo Pedrosa, a posição em que os dois irmãos foram encontrados pode ser comparada com o trajeto dos projéteis e ajudar a perceber se houve alguma mudança no posicionamento deles. “Ajuda o trabalho dos peritos na medida em que fica mais fácil procurar algum projétil de um possível disparo das vítimas”, esclarece. O relato do boletim de ocorrência divulgado pelo Corpo de Bombeiros afirma que as vítimas foram encontradas de bruços.
Horários
Sobre a questão das diferenças de tempo entre a chegada da equipe policial na casa dos jovens, o acionamento do socorro e a chegada do resgate, Pedrosa não quis entrar em detalhes, mas afirma que os depoimentos ajudaram a montar uma linha temporal congruente. “Não posso me aprofundar, mas conseguimos clarear bastante coisa que vai ser importante no seguimento da investigação”, diz.
No Registro de Atendimento Integrado (RAI) o horário da comunicação da ação policial documentado foi de 12h30. Porém, a PM não informou o horário em que os policiais iniciaram a abordagem e o horário em que eles ligaram pedindo o socorro. O POPULAR mostrou ontem que, de acordo com testemunhas, a equipe policial chegou à casa dos garotos por volta de 11h e ouviram os tiros sendo disparados por volta de 11h30. Pedrosa acredita que a abordagem ocorreu perto deste horário. “Continuo acreditando que foi antes das 11h50”, diz. Porém, o delegado não confirmou o horário em que os disparos ocorreram.
Na terça-feira (7), a assessoria do Corpo de Bombeiros informou ao POPULAR que o acionamento havia sido feito às 13h25. Na quarta-feira (8), a TV Anhanguera divulgou que a corporação havia dito que foi chamada às 12h58 e teria chegado ao local às 13h09. A corporação não soube explicar a razão da primeira divergência de horários. Já a segunda, de acordo com ela, ocorreu porque o sistema de registro de ocorrência continua no horário de verão. Já a prefeitura de Trindade informou, em nota, que o Samu foi acionado às 11h57 e chegou ao local às 12h07.
A ambulância dos bombeiros saiu do 15º Batalhão Bombeiro Militar na Rua da Pecuária, no bairro Santuário, em Trindade. Da unidade até a casa de Victor e Kalebe são 15 quilômetros de distância. Com o trânsito normal, o tempo médio gasto no deslocamento é de 21 minutos. Já o local de onde as ambulâncias do Samu saíram não foi informado pois, segundo a Prefeitura de Trindade, “as ambulâncias podem sair tanto da base, ou se estiver retornando de outro atendimento desloca de onde estiver.”
Segundo o boletim de ocorrência dos Bombeiros, assim que chegaram e encontraram os jovens baleados, “no mesmo momento chegaram duas unidades do Samu”. O documento diz ainda que as vítimas foram intubadas e receberam os procedimentos de reanimação cardiorrespiratórias, sendo que um dos jovens foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Setor Soares/Cristina pelos Bombeiros e o outro pelo Samu. Porém, os irmãos “chegaram na unidade de saúde sem sinais vitais”. O óbito foi atestado por um médico da equipe do Samu.
Próximos passos
O delegado diz que nesta sexta-feira os bombeiros deverão ser ouvidos. “Os familiares, testemunhas e socorristas já foram ouvidos. Amanhã ouviremos os bombeiros e finalizaremos todas as perícias. Então realizaremos uma reunião com o delegado André Fernandes, responsável pela nossa regional, e provavelmente montaremos uma força tarefa para acompanhar o caso.”
Foto: Douglas Schinatto / O Popular
Fonte: Jornal O Popular