O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) analisou 310 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes em 2017 e fez um recorte regionalizado da violência no país. O Atlas da Violência – Retrato dos Municípios Brasileiros 2019, elaborado em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que houve um crescimento das mortes nas regiões Norte e Nordeste influenciado, principalmente, pela guerra do narcotráfico, a rota do fluxo das drogas e o mercado ilícito de madeira e mogno nas zonas rurais.
O estudo identifica uma heterogeneidade na prevalência da violência letal nos municípios e revela que há diferenças enormes entre as condições de desenvolvimento humano nos municípios mais e menos violentos.
O município mais violento do Brasil, com mais de 100 mil habitantes, é Maracanaú, no Ceará. Em segundo lugar está Altamira, no Pará, seguida de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte. Dos 20 mais violentos, 18 estão no Norte e Nordeste do país. De acordo com o coordenador do estudo, o pesquisador Daniel Cerqueira, os municípios mais violentos têm 15 vezes mais homicídios relativamente que os menos violentos.
“Em termos proporcionais, a diferença entre os municípios mais e menos violentes corresponde à diferença entre taxas do Brasil e da Europa”, compara. Nos municípios mais violentos, o perfil socioeconômico é mais parecido com os países latino-americanos ou africanos: as pessoas, em geral, não têm acesso à educação, desenvolvimento infantil e mercado de trabalho.
Goiás
Na região Centro-Oeste, o estado com a maior taxa de mortes violentas era Goiás (43,9), seguida por Mato Grosso (34,3), Mato Grosso do Sul (25,7) e Distrito Federal (20,5). O estudo ilustra a distribuição espacial da taxa estimada de homicídios na região Centro-Oeste (ver mapa), onde se pode perceber visualmente que os estados de Mato Grosso e Goiás possuíam maior proporção de municípios com altas taxas de mortes violentas.
Coincidentemente, eles tinham exatamente a mesma mediana da taxa de homicídio, de 28,9, ao passo que a mediana do Mato Grosso do Sul era de 25,6 mortes para cada 100 mil habitantes. Enquanto em Goiás e em Mato Grosso se percebe um espalhamento dos municípios com maiores índices de homicídios por todas as mesorregiões, em Mato Grosso do Sul, os territórios com maiores índices de homicídios se concentravam na região metropolitana de Campo Grande e no Cone-Sul do estado, na região de Ponta Porã.
Em Goiás, em 2017, observa-se uma concentração maior de mortes violentas intencionais no entorno de Brasília e na região metropolitana de Goiânia, nos municípios de Goiânia (40,7), Aparecida de Goiânia (60,4), Senador Canedo (48,4) e Trindade (57,7). Todavia, inúmeros municípios muitos pequenos, com populações muitas vezes menores do que 10 mil habitantes, possuíam alta prevalência relativa de homicídios em todas as mesorregiões goianas, como são o caso de Colinas do Sul (141,7) e Trombas (112,0), no Norte.
No Centro, os municípios com maiores índices são Caldazinha (108,0), Aragoiânia (98,4), Campo Limpo de Goiás (95,3) e Goianira (93,8), sendo que este último possui população pouco maior, de 41 mil habitantes. No Sul, municípios com cerca de 12 mil habitantes possuíam os maiores índices de homicídio, sendo eles: Maurilândia (97,2), Edéia (89,9) e Anhanguera (88,8). No Leste, Simolândia (96,0) e Colinas do Sul, ambos com menos de sete mil habitantes, também se destacam no conjunto daqueles com as maiores taxas de homicídio.
Luz no final do túnel
Os desafios no campo da segurança pública no Brasil são enormes, na avaliação do coordenador do estudo. “Há luz no final do túnel para dias com mais paz no Brasil e a luz passa por políticas focalizadas em territórios vulneráveis”, acredita Cerqueira. “Quando essas políticas são feitas e concatenadas com a política de qualificação do trabalho policial, com inteligência e boa investigação, se consegue, a curto prazo, diminuir os homicídios no país”, afirma.
A solução, sugerida pelo estudo conjugaria três pilares fundamentais. Em primeiro lugar, o planejamento de ações intersetoriais, voltadas para a prevenção social e para o desenvolvimento infanto-juvenil, em famílias de situação de vulnerabilidade. Em segundo lugar, a qualificação do trabalho policial, com mais inteligência e investigação efetiva. Por fim, o reordenamento da política criminal e o saneamento do sistema de execução penal, de modo a garantir o controle dos cárceres pelo Estado.
Foto: Reprodução
Fonte: https://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/atlas-da-violencia-goias-apresenta-maior-taxa-de-mortes-violentas-do-centro-oeste-201553/